segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Isqueiro do capeta

Era um dia feliz em Buenos Aires. Um domingo ensolarado e fazia um friozinho gostoso pra sair na rua e desbravar a capital argentina.

Acontece que fui longe demais no meu passeio flaneur e fui assaltado em frente à Casa Rosada. Essa história os (dois) leitores fiéis deste blog já sabe (entenda você também clicando aqui).

Do roubo, me restaram poucas coisas: alguns trocados em pesos, umas moedinhas, um maço de cigarros comprado lá mesmo em Buenos Aires e um isqueiro, que eu tinha levado do Brasil. Um isqueiro Bic, verde, grandão. Todo bonito e prático.

Fodido, fumei naquele dia uma porrada de cigarros, um atrás do outro. Estava nervoso, bem nervoso. Ora: moro em São Paulo e bem na Argentina fui sofrer meu primeiro assalto à mão armada?

Depois daquele domingo não vi mais o meu isqueiro. Nem me dei muito ao trabalho de procurar, acho que deixei ele cair em algum ônibus ou em alguma praça onde eu me deitei na grama pra ver o céu azul e limpo de Buenos Aires para pensar na vida.

Foi difícil pedir um isqueiro novo no quiozco lá perto do albergue. Pensei que não seria muito diferente do português, então cheguei para a moça e pedi um izquiero. Izzzzquiero. Izzzzz-qui-e-ro. Nada. Fiz então o gestinho tradicional de um isqueiro e a mulher explicou: “Ah, acendedor?”. O mundo era mais fácil do que eu esperava.

Tudo bem até aí. Comprei um isqueiro gringo, usei-o algumas vezes em Porto Alegre e até hoje estou com ele aqui no Brasil. Mas é apenas um... isqueiro. Normalzão, assim como todos os outros.

Só que aí, um dia desses, estava saindo do meu carro, abri a porta do banco de trás do carro para pegar a mochila... e vi uma coisa verde no tapetinho de borracha ali. Cheguei perto e... e lá estava o isqueiro que eu tinha perdido em Buenos Aires.

Não me pergunte como, não me pergunte por que, mas um isqueiro que eu tinha perdido na Argentina se teletransportou para o meu carro. E eu passei a ter medo daquele isqueiro.

5 comentários:

Anônimo disse...

Hahahaha! Reencontro emocionante, imagino eu. Medo mesmo.

Thiago Apenas disse...

"Um isqueiro Bic, verde, grandão. Todo bonito e prático."
Juro que li algo estranho nessa frase...

3 leitores agora!

paula r. disse...

talvez ele seja seu isqueiro da sorte...

Maria Loverra disse...

Essa história os (dois) leitores fiéis deste blog já sabe (entenda você também clicando aqui).


COF! Espero que eu seja um dos dois MESMO!

Luara Quaresma disse...

Brilhante *-*