sábado, 23 de junho de 2007

Nós somos quadrados

– Alô?
– Fala, meu querido!
– Opa!
– E aí, como ta?
– Tranqüilo, e por aí?
– Sussa. Bora fazer alguma coisa hoje?
– Vamo aí. O quê?
– Ah, pensei em uma coisa suave. Vamo pro Extra?
– Humm... ahh... ehh... ah, tá.

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Estava em dívida, e por isso aceitei. Havia deixado de sair com os velhos amigos nas duas últimas semanas com a desculpa de que estava em semana de provas. Não deixa de ser verdade, mas o fato é que eu não saía porque... enfim, tudo ia acabar na mesma coisa. E a mesma coisa acaba sendo chata ao quadrado.

Isso porque juntam cinco moleques em volta de três carros e transformam um Gol 95 na oitava maravilha do mundo. E se ele for turbinado, então, é apelação. E o pior de tudo é que a criatividade não é muita, já que o local de encontro é sempre o mesmo: estacionamento do Extra da Ricardo Jafet. Algumas cervejas, um porta-malas ligados e papos sobre correias, volantes, funilaria (que hoje eu descobri que também pode ser chamada de funeca) e essas coisas.

Já mostrei publicamente meu desinteresse por fazer a mesma coisa nos últimos dois anos e até sugeri novos lugares. A desculpa, porém, é sempre a mesma: pô, é mó caro ir a um bar e ficar bebendo por lá. Aqui é a mesma coisa: a gente compra uma cervejinha lá em cima e bebe por aqui. E é até mais barato, eles dizem.

Pois bem. Acabei saindo hoje e tudo se encaminhava para mais uma noite maçante de sábado. Até que um deu a brilhante idéia de mudar de ambiente: "Num posto aqui do lado tá rolando a 'Nós somos quadrados', vamo aí?”. Saquei de cara e esperei todo mundo responder. Ninguém se mostrou interessado, mas acabou indo. E como dependia da carona, fui de tabela.

“Nós somos quadrados” é uma reunião de um bando de gente sem mais o que fazer e que tem um carro quadrado. Parati, Gol ou sei lá o que mais tinha naquela merda. Eles se juntam em volta dos carros e ficam falando coisas sobre carros. E se você não entende nada sobre carros, então você é um alienígena.

Depois, se cansaram. Surgiu então a idéia de fazer um drifting em São Bernardo do Campo. Quê? Antes de entender, já estava dentro do carro indo pra sabe-se lá aonde. Já tava tarde, mais de 2 da manhã, e eu aproveitei a desculpa da semana de provas para dormir.

Dormi até chegar no drifting, que nada mais era do que uma rua com várias curvas em que o motorista acelerava e se divertia quando a curva era mais fechada e ele podia fazer a traseira sair (de onde eu não sei).

Acordei no drifiting e me mantive acordado para não bater a cabeça nos vidros. Em seguida, voltei a sonhar com nada. Na volta, ouvi algo como 210 km/h na Ricardo Jafet. Não sei como eu consegui dormir dentro de um carro a 210 por hora na Ricardo Jafet às 3 da manhã. Enfim.

Talvez meus amigos precisassem jogar videogame. Hoje, fiquei meia hora jogando um jogo de Fórmula 1 e me diverti muito mais do que em todo o tempo restante da noite. Mesmo com drifitings, 210 por hora ou cerveja no supermercado.

Era mais legal quando ninguém dirigia e todo mundo se fodia para voltar pra casa. Mas ninguém fazia círculo em volta do motor pra ver se a coifa tava ao contrário ou não, sei lá.

E, francamente, cerveja no supermercado não rola.

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