sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Confissão


Sabe todas as vezes em que eu te digo, meio desiludido e com as palavras carregadas de mágoa, que não nos veremos mais? Preciso te confessar algo: eu minto.

Nunca estive tão certo de algo tão incerto. Sei que vamos nos reencontrar de novo, querida. Não sei se no próximo verão, se no próximo ano, se na próxima década, se em nove ou em noventa anos. Não sei se aqui ou se aí, se no primeiro lugar em que eu te vi ou em um trem a caminho de sabe-se lá onde. Não tenho a menor ideia.

Eu só sei. Sempre soube. E se te digo o contrário é para te provocar. Para te instigar a me fazer uma surpresa que apagaria (apagaria?) as últimas surpresas que tive com você.

Se te digo que você nunca mais saberá uma letra a meu respeito é porque me dou a oportunidade de que você, a vida, o destino, a improbabilidade, o acaso ou qualquer outra entidade que esteja no comando do nosso barco me surpreenda. Me olho no espelho e repito que você é uma página virada, rasgada, amassada e atirada pela janela apenas para poder sorrir incrédulo e estupefato ao te ver de novo.

É impossível que seja impossível que nos vejamos mais uma vez. Apenas admito a impossibilidade de que nos tenhamos afastado com um simples e mentiroso “até logo” que quis dizer "até nunca mais". Desde aquele momento eu sabia que te veria de novo. Como você sempre foi; maquiada ou com a cara lavada; com o rosto mudado; mais velha, mais gorda, mais casada, mais ou menos divorciada, meio que com filhos, menos ou mais solteira, mais enrugada, mais jovem; mais linda. Mais linda. Como sempre ou como outra pessoa.

Não, não pode ter sido somente isso. Não seria certo, não seria justo.

Sim, nós nos veremos mais uma vez. Nos olharemos, nos sentiremos fracos e inseguros. Nossos corações palpitarão como uma britadeira contra o nosso externo – e não duvido que quebrem nossas costelas. Sorriremos. Lembraremos, fantasiaremos. Espero que nos falemos. Espero que passemos uma tarde inteira juntos conversando sobre o nada que teremos feito até lá.

E se algum dia eu ficar velho e gagá e, entre minhas fantasias, eu me lembrar de que ainda não te vi, vou sorrir. Vou respirar aliviado por saber que o pior já terá passado e que dali a alguns instantes nos reencontraremos.

Sim, querida.

Minha certeza em te ver de novo é tão grande que me fez acreditar em uma outra vida depois desta vida.

Tudo isso porque estou mais do que certo de apenas uma coisa: a chance de nos vermos de novo, por um micromilissegundo que seja, é o que mais se aproxima neste mundo (e em todos os outros) ao zero absoluto.  

Nenhum comentário: