terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Latrocínio de carros

Depois de quase um ano dirigindo meu humilde carro com o maior cuidado do mundo, não sei de onde apareceram nele hoje os dois primeiros riscos na lataria. Percebi pela manhã, saindo do clube após dar uma corrida (mal-sucedida) pelo Ibirapuera.

Parei em frente aos arranhões com um grande penar quando o flanelinha desdentado apareceu perguntando o que tinha acontecido. “Putz, apareceram dois riscos aqui do lado esquerdo, não sei de onde”. O cara se sentiu o maior ofendido da história (e não eu, que tive meu patrimônio depredado) e começou a argumentar de todas as maneiras possíveis. E me lançou essa:

“Olha, eu fui chamado aqui pelo presidente do clube e pelo general do exército (meu clube fica próximo a um quartel militar) pra tomar conta dos carros, porque aqui tava rolando um alto número de latrocínio de carros”, argumentou o cara, que, segundo ele próprio, foi soldado-alvo (atiravam nele?), tenente, faixa marrom em caratê, professor de alguma coisa, amigo dos manos e mais outra patavina que não me lembro (a única coisa que ele não conseguiu ser, a meu visto, era cliente assíduo de dentista).

Não entendo como um local próximo a um quartel militar e à Assembléia Legislativa possa ter sido, alguma vez, região visada para ladrões de carros. Mas o mérito da questão não é essa, mas sim o fato de um novo crime assolar a região: latrocínio de carros. Na hora, entendi que o meliante roubava o automóvel e, no afã de fugir, deixava o veículo morrer. Ou fazia questão de fazer o motor morrer. Aí sim seria um latrocínio de carros.

Entendo que o flanelinha tenha querido mostrar erudição, fazendo uso de palavras bonitas para me convencer. Velho recurso, este, que em muitos casos funciona. Mas latrocínio de carros é algo que não me entra na cabeça. Enfim.

Esse papo me lembrou, também, da zona que rolou no final de semana por causa das confusões entre as torcidas no clássico de São Paulo e Corinthians de domingo. Depois que o pau comeu mesmo nos arredores do Morumbi, o promotor público Paulo Castilho apareceu para dar entrevistas com um discurso todo empolado.

Entre termo bonito pra cá e discurso pronto pra lá, um termo que não parava de aparecer era o celeuma quando tentava eufemizar a palavra ‘treta feia’. Celeuma, até onde eu sei, é usado para designar uma confusão que não tenha porrada, mas sim uns... desentendimentos, uma discussão mais acalorada.

Mas enfim, celeuma é uma palavra que me remete muito aos tempos de colégio (três anos atrás, não é tanto tempo assim). Sempre que ouço essa palavra, me recordo das aulas de biologia, quando tentava decorar o que era um celoma (termo de biologia embrionária que dá origem a uma boa parte do nosso corpo). Ou, então, os xilemas das aulas de botânica (vasos condutores de seiva, rivais dos floemas).

Celeuma me lembra celoma, e não confusão. Mas é mais bonito de usar em discursos e tal. Latrocínio de carros me remete a um ladrão que não sabe dirigir. E os riscos no meu carro devem ter sido obra de algum belo filho da puta que não tem mais o que fazer da vida. =/

4 comentários:

Anônimo disse...

Pô, também ando correndo no Ibirapuera nos últimos tempos! Qualquer dia, nos trombamos por lá.

E não gosto de "celeuma", mas curto "imbróglio". Sei lá por quê, mas acho legalzinho.

Bonie disse...

"tenha querido mostrar erudição", depois era ele que queria mostrar alguma coisa... hahaha

E ahhh celeuma também me lembra xilema, mas xilema parece alguma brincadeira de criança, enquanto celeuma tem cara de doença.

=s

paula r. disse...

celeuma me lembra celeuma. nossa, faz tempo que eu saí do colégio.

Anônimo disse...

Hahaha muito bom o texto!

Eu penei uns tempos para identificar onde ficava o celoma no embrião... argh.

Mas, latrocínio de carros é um crime que deve ter uma alta pena na cadeia =D

Bom carnaval!