sábado, 1 de novembro de 2008

Ticket to ride (away)

Ah,

Eu cheguei em casa esses dias um pouco cansado. Não, vai. Era bem, bem cansado. Mas ultimamente tenho andado meio eufemista, fingindo que tudo anda bem e tal. Talvez porque na verdade tudo ande realmente bem, e eu fique por aí tentando arranjar algum motivo pequeno para desestabilizar uma época bem legal.

Mas não vamos falar sobre as minhas besteiras, pode ser?

Bom, o fato é que eu estava realmente cansado e tinha chegado em casa. Esse é o nosso ponto de partida. Abri a porta de casa, acordei meu cachorro. Ele estava deitado no sofá, mas acordou e veio correndo para a porta fazer festa para mim. Dei um tapinha na cabeça dele, peguei o brinquedo da boca dele, joguei no fundo do corredor. Ele foi buscar, devolveu para mim e voltou para o sofá.

Vim para o quarto, meu irmão estava sentado na minha cama mexendo no computador. Este mesmo, que agora está no meu colo enquanto eu vivo mais uma noite de insônia com a janela aberta. Certeza de que isso não deve ser muito saudável, pegar vento às 4 da manhã.

Ih, mas olha eu fugindo do assunto de novo.

Acho que... é, acho que estou fugindo tanto para não falar que... que cheguei em casa e vi, no meu quarto, um pedaço de papel querendo cair da minha estante. Me aproximei, ele estava com as costas para cima. Todo surrado, dobrado e amassado, querendo amarelar.

Virei o tal do papel. Ele tinha me custado... ele tinha me custado R$ 15,55. Não lembro se paguei direitinho, com moedas contadas e tudo, ou se simplesmente dei uma nota de 50 para o caixa. O bilhete foi emitido às 14h22 de um sábado. Aquele sábado.

Nem lembrei que tinha comprado aquele bilhete e ido para a plataforma 7o8. Ou 758. Pode ser 708, não sei. A tinta já se apagou um tantinho, não dá para ler muita coisa naquele papel.

Apesar de que... ah, qual a diferença? Eu tenho lá minhas lembranças, minhas lembranças ruins, sempre que vejo esse papel. Deixa que ele se apague mesmo, é até melhor. Tenho muitos outros bilhetes mais interessantes guardados aqui no meu quarto. Que me trazem doces, doces lembranças.

Só me entristece um pouco o fato de não ser só a tinta do bilhete que está se apagando. Estão sumindo das minhas lembranças, aos poucos, o seu rosto, o seu olhar brilhante, o seu sorriso, a sua voz...

... não que isso seja ruim, na verdade.

2 comentários:

Bonie disse...

Que...

...que triste. E que bonito *-*

Já reparou que as coisas tristes sempre acabam sendo bonitas de um jeito muito mais profundo que as coisas felizes?

Luísa S.R. Brandão disse...

"This too shall pass", é o que sempre me dizem. Dizem que passa tudo, e quer saber? Péssima notícia; não passa. Por mais que as lembranças sumam, aquele sábado vai fazer parte da sua vida pro resto dos dias. Mas te garanto que em algum momento ele não vai doer mais. Você só vai respirar fundo e lembrar que passou...

PS: Sem emoções sobre São Paulo. Amar a cidade com seus prós e contras é bem a minha. Sabia que dizem que a poluição de São Paulo vicia? Eu sou uma viciada. Te digo porque morei aí por seis meses e eu gostaria que tivessem sido 6 anos.