segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Atrocidades

Acendi a luz e ela já estava lá, imóvel, olhando para mim. Já estava esperando por isso, mas não naquele momento. Tanto que ficou um bocado zonza quando o clarão da lâmpada piscou pela primeira vez.

Não estava esperando por aquele encontro. Tentei fazer de conta que tinha sido tudo mentira, coisa da minha imaginação. Apaguei a luz, dei um passo para trás... voltei à frente e liguei o interruptor novamente. Queria estar bêbado e ter fantasiado aquele encontro, mas não: ela continuava ali.

Eu... eu não tinha medo dela. Seria idiota ter medo de algo tão insignificante. Era apenas... preguiça. Minha vida naqueles cinco minutos subseqüentes seria muito mais fácil se ela nunca tivesse existido. Nem ela e nem toda a sua prole.

Mas... ela estava lá, e era melhor enfrentá-la. Eu sabia que tinha algumas alternativas, só que nem todas funcionariam. Ou seriam fáceis. Era um trabalho... não complicado, mas no mínimo desagradável.

Eu poderia gritar alto falando para ela ir embora. Seria a forma mais ineficiente, eu sabia que deveria ser mais incisivo. Isso, mais enérgico. Violência física? Hum, também. Só que... e depois? Faria uma sujeira e tanto, sangue (ou seja lá o que for aquela coisa) espalhado por todo lugar. Não.

Acabaram me restando duas saídas opostas. A primeira, ignorá-la e me retirar. Sabia que ela se cansaria de ficar ali por muito tempo e logo em seguida iria embora – sabe-se lá para onde. Ou então... é, eu poderia... sim, cometer um... um... assassinato.

“Enérgico, lembra?”, pensei comigo mesmo. Escolhi a segunda opção. E eu sabia o que escolher para isso: morte lenta, a pior de todas. Ela ficaria desesperada, tonta, asfixiada... estrebucharia, agonizaria... tudo isso até chegar ao seu triste fim.

Abri o armário. Lá no fundo, peguei o frasco que seria mortal. Me aproximei e ela percebeu o que iria acontecer. Tentou se afastar lentamente, mas não conseguiu. Estava condenada.

Um leve esguicho e lá estava ela: tonta e desesperada, desesperada e asfixiada. Bateu com a cabeça na parede, começou a estrebuchar. Estava agonizando. Eu, assistindo a tudo isso, me deleitava. Na verdade era um misto de culpa e satisfação. Um deleite diferente.

Passaram-se cinco minutos e a agonia estava terminada. Ela, imóvel. Eu, com a ficha criminal suja. Mas com a casa limpa.

Baratas invadindo sua cozinha em uma noite quente não é uma coisa legal.

4 comentários:

Bonie disse...

No-jo.

E você é uma pessoa horrível, Felipe Held. Horrível.

Anônimo disse...

Odeio baratas, elas são abomináveis. E nojentas, muito nojentas.

Acima das baratas na escala de ódio, só mesmo os pernilongos. Mas é quase um empate técnico.

Anônimo disse...

Olá...Adorei,excelente.amo vc...

Thiago Apenas disse...

Com baratas é fácil, quero ver com moscas!!! hauhauhauhahuhaha
Excelente o blog