domingo, 14 de janeiro de 2007

Teorias sob o abajur

Todas as pessoas passam a semana inteira esperando a noite de sábado chegar para que elas façam sei lá o quê. Às vezes, acho que o mundo vive em função da noite de sábado. No entanto, seja lá o que o sábado à noite represente, sinto como se isso não me importasse tanto.

Pra falar a verdade, nunca fui tão fã assim de um sábado. Claro que é bem melhor do que um domingo e tal, mas eu sempre achei a sexta-feira o melhor dia da semana. Aquele clima de que o fim de semana vai começar e é o último dia de acordar cedo e tudo mais. E sempre tem alguma coisa ou outra mais interessante pra se ver na tevê, caso eu não fizesse faculdade à noite.

Agora veja o sábado à noite: a pessoa que não arranja nada de interessante pra fazer vai ficar em casa vendo Zorra Total, que é o programa mais deprimente da televisão brasileira. Não bastasse o cidadão perder a noite de sábado – o sentido da vida –, ainda tem que ficar entediado. Coitado.

Pior que isso é passar o tal momento mágico com apenas você. Ou nem isso, porque sua cabeça está curtindo uma noite de sábado de um jeito bem mais útil do que você – sua mente não está entediada. Lá no fundo, ela sonha com tudo aquilo que não tem e deseja (aquilo que mais lhe faz falta). Por mais que eu não seja lá muito ligado a sair de casa e tal, sinto como se fosse iminente a eminência disso tudo.

Na verdade, não é bem sair de casa. Só queria ter alguém com quem conversar, ou com quem passar o tempo de uma forma bastante útil e nada constrangedora. Tudo bem, pode me achar um imbecil por ter várias opções e não mencioná-las. Pois bem, vou eliminá-las uma a uma até que consiga o entendimento alheio:

Família dorme, como qualquer família normal que acorda no domingo de manhã pra morrer de tédio.

Amigos, não. Não há sentido em chamar os amigos para tomar uma cerveja em alguma mesa de bar, falar sobre de política a futebol – claro, sem esquecer as mulheres ou os desenhos animados – e depois voltar pra casa de pileque. Hoje em dia, os amigos de antes não falam mais sobre as coisas de antes. Eles falam de turbinas, de conta-giros, de aspirados, rebaixados, quebrados e toda essa merda de carro velho que mais faz barulho do que tudo. E mesmo que mudem de idéia e decidam ir somente ao bar, ninguém quer ficar na mesa de um bar pagando um pouquinho a mais de se tomar alguma coisa em alguma mesa com cadeiras. É melhor ir a um posto, claro, onde há muitos e muitos carros turbinados com um som muito louco e... ah, claro, e tocando um black. Sinceramente, ao caralho!

Se não os amigos de antes, os amigos de um pouco antes ainda. Tudo bem, vamos evitar o assunto dos carros – embora sempre tenha um que puxe por isso e insista em levar o assunto por esse meio. Mas mesmo assim, não muda muito. É aquela coisa de sair, tomar uma ou outra cerveja, passar de carro, parar num puteiro e qualquer coisa. Como não sou muito fã disso – sinceramente, sempre preferi o método tradicional, higiênico e gratuito da coisa -, fico na minha e sempre dou uma desculpa pra não entrar [e, assim, ninguém entra]. Ora, melhor não sair com eles e estragar a noite agitada que eles terão com algumas mulheres mais experientes.

E as amigas? Ah, era uma boa, né? Quer dizer, não conheço muitas garotas que gostem de falar única e exclusivamente de carros ou então, sei lá, ir a puteiros. Mas chamar uma garota pra sair à noite muitas vezes é uma cantada barata. Como não sou bom nisso e não tenho paciência de explicar que só quero sair para conversar e não pra qualquer outra coisa – inicialmente –, fica mais difícil. E também tem que as que têm mais assunto para um sábado à noite já arranjaram um programa muito mais interessante pra fazer.

O que sobrou, o que sobrou? Infelizmente, o mundo virtual. Não é o melhor modo de passar o momento especial mais esperado da semana, mas é melhor do que ver Zorra Total. Mas, puts, eu conecto e vejo meia dúzia de imbecis com quem eu não sinto nem vontade de falar oi na rua. Um imbecil que se acha o maconheiro e todas as suas frases são relacionadas à erva, um fanático por futebol que sempre foi cuidado pela mãe e que hoje se acha o maioral porque viaja pra praia com os amigos e fuma maconha, um metaleiro idiota que não fala nada além de coisas como moshar e headbanger, uma maluca que se acha a punk mais engajada sociologicamente e defende os ideais do Brasil até que falem da Hungria (se falar mal da Hungria, ela avança. Ela não conhece lá, nunca foi, mas conheceu na internet um garoto de lá e, por isso, ela tem a certeza de que as pessoas lá são melhores do que as daqui. E tudo lá é melhor do que aqui. Na verdade, o Brasil é uma bosta e ela tem orgulho de ser húngara. Ser? Ah, vai pro inferno!) e um moleque de 13 anos de idade, amigo do meu irmão.

O moleque de 13 anos é o que entende mais do mundo do que todos os marmanjos que, de um jeito ou de outro, vão fazer todos os assuntos se afunilarem em um beck. Mas não quero falar com o molequinho. Ultimamente, depois que eu comecei a trabalhar, ele acha que eu sei todas as notícias do Palmeiras um mês antes de todo o Brasil saber e fica meio frustrado quando eu falo que eu sei o mesmo que ele. Ah, quer saber, deixa ele achar isso. Pelo menos ele pode imaginar que conhece alguém ‘famoso’ e ‘importante’.

O que me resta, então, é dormir. E dar graças a qualquer deus que existir por eu ter que trabalhar nos finais de semana. Talvez seja por isso o momento alegre e feliz que eu tive hoje, quando batia meu cartão. É, talvez a noite de sábado para o mundo seja o paraíso para uns, e uma chatice para mim.

Mas não me importo, pra falar a verdade. Tenho a esperança de que alguém, nas profundezas da região metropolitana da megalópole maluca e esquisita, concorda comigo. Ou que pelo menos, com uma palavra – ou talvez duas, ou até três – diga que tudo isso é um dom e me deixe sem graça. Sem graça porque não terei coragem de negar e dizer que não é um dom, mas uma perturbação excêntrica.

Seja lá como for, as pessoas interessantes estão fazendo coisas mais interessantes. E eu, ah, eu me contento com uma latinha, um óculos, um abajur e alguns pensamentos.

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