segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Sobre o recomeço

Eu pensei que já havia exorcizado tua presença em minha vida. Imaginei que ignorando tua existência e seguindo adiante na minha vida seria possível... fazer um novo futuro no qual você, infelizmente (e eu sempre sublinharia este infelizmente), não estaria presente.

E foi com isso bem certo que resolvi começar tudo de novo, bem longe de qualquer lembrança tua. Decidi passar os três primeiros dias de minha nova vida em uma praia bem distante, nova para mim, a quilômetros de qualquer possível despojo da tua existência.

Até que eu resisti bem a esse novo período, sabe? Pude sentar de frente para o mar e olhar para todas as ondas que se quebravam e requebravam e voltavam a quebrar novas ondas e assim por diante. Ah, é. Sempre com alguma cerveja na mão - e não só com água gelada, já que eu não gostava de beber com você (aquele blábláblá que eu tinha de não querer perder um segundo que fosse de estar com você).

Nas poucas vezes em que desviava meu olhar daquele monte de água, reparava em belas moças desfilando de biquíni com belas curvas e belas marcas e belos caminhares, e elas sempre passavam reto sem nem perceber minha existência. Mas eu já não precisava olhar para o teu rosto e penetrar nos teus óculos escuros para ver aquele olhar que você fazia para esconder que estava maravilhada com aquela paisagem – mas teu sorriso te denunciava.

Depois de muitas ondas, muitos biquínis e muitas cervejas, eu voltava para o quarto, tomava um bom banho bem rápido, tranquilo e refrescante, ligava a televisão e assistia a qualquer coisa até pegar no sono; dormia e só acordava quando já estava cansado de dormir. Sensação diferente de chegar à milanesa com você, entrar no banheiro, ser surpreendido por uma entrada inesperada tua no boxe e tomar um banho de quase uma hora com você, para depois ficar horas acordado ao teu lado na cama e levantar, com sono, para colocar alguma roupa de sair, jantar em algum lugar bacana contigo e depois caminhar na beira do mar.

Mas enfim. Depois de três dias assim peguei meu carro, já anoitecendo, e voltei para casa.

Não tinha pudor em fazer ultrapassagens na estrada, ziguezaguear para lá e para cá, já que antes eu preferia manter uma direção constante na mesma faixa, pois morria de medo de acontecer alguma coisa contigo. Aumentava o volume do som naqueles trechos onde costumávamos conversar sobre a vida. Abria o vidro do carro quando sentia sono e não tinha com quem conversar para continuar acordado. Mantinha as duas mãos no volante, já que a tua perna esquerda não estava mais lá para repousar minha mão direita.

Também não tive problemas com a ansiedade de chegar logo em casa, que você amenizava olhando o GPS e dizendo a cada cinco minutos quanto tempo faltava. Até desenvolvi a habilidade de olhar no GPS o tempo estimado para o fim da viagem enquanto subia a serra, sem perder o foco na estrada.  

É, bonita, estou começando uma nova vida.


(... preciso admitir que ela seria muito mais divertida e intensa se você estivesse nela também?)

Um comentário:

Elizabeth Pereira disse...

Boa sorte nessa nova caminhada... difícil, mas possível :)