domingo, 7 de julho de 2013

Nova mensagem recebida

Você me chama, com a naturalidade de alguém que chama a um antigo amigo com quem se encontrou na última semana. Eu vejo teu chamado e empalideço, sinto um calafrio e tateio ao meu redor em busca do maço de cigarros que sempre tenho próximo de mim para o caso de uma emergência como esta. Torço, do fundo da alma, para que ele esteja cheio.

Você escreve tuas palavras com meticuloso cuidado e eu as leio com a esperança de que uma fenda se abra sob meu sofá e me trague e me leve para qualquer lugar longe daqui. Você me envia tua mensagem concentrando na ponta dos teus dedos todo o resquício de carinho que te (me, nos) resta. Eu a recebo com a frieza de um peito congelado que se liquefaz com o passar de cada mililitro de sangue em ebulição por ali.

Você me diz para te responder sem pressa e eu me apresso em te responder. Sou o menino maduro que, no auge do seu discernimento, engole o choro, respira fundo, aperta as pálpebras enquanto desliza para cima a manga da camiseta e descobre o braço para receber uma injeção. Me confundo sobre quem eu realmente sou: uma criança crescida ou um adulto infantilizado? Penso em te perguntar isso.

Penso em te perguntar como você está, o que tem feito e o que pretende fazer. Como estão tua vida, tua família, teu dia a dia, tua rotina amorosa e teu provável, possível, certo, absolutamente certo, indubitável (como estou duvidando disso?, está tão na cara!) novo namorado.

Penso em te perguntar sobre teus planos, teus sonhos, teu rosto, teu corpo. Penso em pedir para ver uma foto tua, para te ver uma vez mais, uma e apenas uma e singela e extraordinária única puta vez. Penso em te perguntar o sentido da vida e a origem do universo, mas não tenho coragem de te perguntar aquilo que eu mais quero saber: quem é você hoje?

Esmago no fundo do cinzeiro o filtro queimado do cigarro que me chamusca os dedos, leio tua mensagem e, enquanto olho fixamente para a tela iluminada que sofro para segurar entre meus (escorregadios, trêmulos, frouxos, hesitantes) dedos, percebo que já tenho outro cigarro aceso na outra mão. Em algum momento eu não havia cogitado parar de fumar?

Venço a batalha comigo mesmo e encerro a conversa contigo. Você me pede para que nos falemos novamente, em breve, dali a pouco, e eu te cedo essa exceção, mesmo desejoso de nunca mais ouvir falar sobre você novamente. E acordo no dia seguinte contando as horas, e errando as contas, e esperando mais do que eu esperava para falar com você de novo.

Nenhum comentário: