quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Insistindo no erro

É sempre bem interessante estar no seu canto e perceber que ao seu lado está uma pessoa que pode dar declarações e contar histórias bastante ricas para o seu ‘grandioso’ trabalho de conclusão de curso (cujo prazo de entrega está tão próximo quanto a relação África do Sul – Vanucci). Você está apenas tomando um chope escuro quando percebe que está a dois palmos de um grande empresário, com quem você descartou tentar contato, justamente por ser... um grande empresário sempre atarefado.

Pois bem. Era segunda-feira eu estava nesta situação, enquanto esperava ansiosamente por um papo com o Thomaz Koch e vi ao meu lado um homem do meu tamanho (vulgo baixinho), bem calvo e com o mesmo rosto que sorria para mim em um livro: Luís Felipe Tavares, ex-tenista e presidente da Koch Tavares (empresa que não tem nada a ver com o Koch, apesar do nome).

O evento estava superando – e muito – as expectativas, com a presença do Guga – perdi a entrevista que tinha feito com ele no começo do ano porque a besta aqui esqueceu de transferir o e-mail da conta do antigo trabalho, hoje já apagada. E poder falar com o Tavares... seria um lucro e tanto para aquela noite de segunda-feira.

Como bom empresário, o Tavares não saía do lado de várias pessoas. Conversava, ora sério, ora brincalhão, com muitas pessoas. Todos que passavam por ele faziam questão de cumprimentá-lo e puxar algum assunto. E eu esperava. Fiquei quase uma hora nessa delonga quando ele se aprontou para ir embora. Era a minha chance.

Abordei o homem, chamei-o pelo nome. Ele olhou para mim e lhe contei resumidamente sobre o que eu queria (resumir é algo em que tenho grandes problemas) e esperei a reposta dele. Achei que ele não tinha me entendido bem, ficou um tempo olhando. Então, surpreendentemente, disse: “Maravilha, garoto! Me liga amanhã, eu posso te receber em meu escritório um dia desses e a gente conversa”.

Aí foi a minha vez de ficar perplexo. Ora, eu sempre ouvi todo mundo dizer que o Ipe Tavares era um cara extremamente ocupado e dificílimo de se entrevistar. Mas se a chance caía no meu colo... por que não aproveitar, certo? Hum... quase.

Então ele tirou do bolso a carteira para me dar um cartão de visitas. Revirou toda a carteira e não encontrou. Pegou várias vezes os cartões de vários bancos. Fiz até uma piadinha falando que aquela ajuda poderia enriquecer muito o meu trabalho (ele não riu). Aí encontrou um – o último – cartãozinho e me deu. Agradeci, me despedi dele e voltei ao salão para esperar o Thomaz Koch.

Aí eu resolvi olhar o cartão do Luís Felipe Tavares. Estava escrito o nome de um outro homem, presidente de uma das maiores construtoras do Brasil. Mais uma vez, assim como fiz meses atrás com Pepe – Egídio Marques de Mesquita –, confundi as pessoas. Mula!

E olha que isso não foi o pior. Na tentativa de falar com o empresário errado, perdi a chance de entrevistar o Flavio Saretta e tocar uma pauta bem interessante que eu estava pensando, com chances de conseguir um furo até que interessante. Na hora não me importei. Só no dia seguinte, quando ele foi anunciado como técnico das categorias de base do tênis do Palmeiras, eu percebi a cagada dupla.

Ao menos acertei o Koch, que me desejou sorte nessa reta final de TCC. Ele não sabe, mas... como eu vou precisar!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Voz do tênis

Eu estava extremamente nervoso. Era uma manhã de quinta-feira, bem ensolarada. Mãos suavam, eu parecia mais principiante do que já sou. Estava prestes a fazer a minha primeira entrevista para o estafante TCC ao qual me propus solitariamente: recontar a vida da Maria Esther Bueno.

O meu entrevistado seria um jornalista especialista em tênis, que cobriu bastante o esporte durante a época áurea da Maria Esther. Bem gentil, me convidou para uma conversa pela manhã em seu apartamento, no Itaim. Tomei um café na padaria da esquina enquanto rabiscava, nas costas das minhas pesquisas, umas perguntas que faria a ele.

Às 10h55, paguei a conta, atravessei a rua e segui para o prédio. Tirei os óculos escuros antes de me identificar ao porteiro e subi. O jornalista – um senhor de muito boa aparência, olhos claros, cabelos brancos e uma cicatriz no lábio superior – me recepcionou muito bem, uma casa extremamente bem cuidada e gostosa de morar. Não sei se ele notou minha insegurança, mas me deixou bem à vontade.

Começamos a papear sobre Maria Esther Bueno. Ao fim de duas horas, acabei não o entrevistando. Conversamos bastante, e tive uma sutil impressão de que conhecia aquela voz. Ele ficou impressionado com a minha “vasta” pesquisa para o TCC, as 15 páginas com histórias que eu havia apurado em duas semanas de buscas. E, também, ficou maravilhado com uma edição de colecionador de uma revista que eu havia descolado nessas apurações.

“Infelizmente eu não vou poder ajudar em nada, Felipe. Você, definitivamente, sabe muito mais sobre a Maria Esther do que eu. Estou aprendendo demais contigo”, ele dizia. Depois de algumas dezenas de minutos de conversa, notei o quanto aqueles elogios. O Rui Viotti, dentre outras coisas, foi o narrador das finais do Guga em Roland Garros.

“Quero muito que você me convide para a sua banca de TCC, faço questão de ir para aprender mais com você”, disse o Seu Rui quando nos despedimos. Foi um incentivo e tanto para não desistir, muito embora a personagem principal do meu trabalho não tenha colaborado em nada.

Hoje, desligando o computador, vi no twitter do Sílvio Luiz que o Rui Viotti faleceu nesta segunda-feira, aos 79 anos, após passar dias internado. Teve uma infecção generalizada, não resistiu. Obviamente, fiquei chocado e estarrecido com a notícia inesperada.

Entretanto, vou dormir sem peso na consciência ou arrependimento por um motivo: vendo como ele ficou interessadíssimo com aquela revista de colecionador, tirei uma cópia de todas as páginas e enviei para ele, como um mero presente pela hospitalidade.

Nem sei se recebeu, na verdade. Prefiro pensar que sim, e que gostou. E que tenha, de fato, podido aprender um pouquinho com um moleque nervoso certo tempo atrás.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A cabeleira do Zezé

Coisas estranhas acontecem todo o tempo, e não ia demorar que algo de... ahn, bizarro se passasse comigo depois que resolvi dar liberdade à minha cabeça e deixar o cabelo ganhar alguns centímetros. Seguindo a tradição da família, os fios cresceram de forma nada sutil, porém lisa. Daqueles que esvoaçam com o vento – se o jornalismo não der certo, posso até tirar a barba e fazer comerciais de xampus, já que não uso condicionador.

Chega de besteira.

Estava dando um pulo no carro para pegar um papel que precisava ser enviado ao UOL para que eu ganhasse meu salário quando encontrei nas escadas uma vizinha velhinha do andar de cima. Gentil, segurei a porta para ela sair, embora quisesse me livrar de um possível papo o mais rápido possível.

Meu sorriso forçado, porém cativante (aham!), não deu certo. A velhinha quis saber com quantos anos eu estava (quase falei 19) e piriri. Aí disse que eu estava muito, muito bonito (algo me diz que a visão dela está afetada) e parecia muito mais jovem (definitivamente, estava afetada). Entre esses elogios, passou a mão no meu cabelo.

Fui para o carro com uma sensação estranha. Até porque, horas antes, eu estava andando pela Paulista após uma agradabilíssima manhã estafante na faculdade (esse negócio de mudar de período dá um trabalho!) quando uma mulher, já de boa idade, veio em minha direção. Ao chegar perto de mim, esticou as mãos e escorreu pelos meus cabelos e falou alguma coisa que eu, juro, não entendi. As pessoas em volta olharam espantadas, e eu mais ainda.

Estava prestes a afirmar que odeio que as pessoas passem a mão no meu cabelo e decretar que tal ato estava temporariamente proibido quando passou um flashback de cinco anos atrás. Eu estava completamente perdido em uma balada, tentando xavecar uma amiga minha extremamente gracinha, quando resolvi passar a mão no cabelo dela como uma aproximação e ela fechou a cara. Saiu de perto, até!

Dias depois, ela explicou a atitude que teve dizendo que tinha pavor que passassem a mão no cabelo dela. É óbvio que a gente nunca teve nada de mais, eu acabei começando um namoro meses depois e perdemos o contato. Um ano depois ela tinha admitido que era apaixonada por mim à época, eu tentei uma nova aproximação (sem mãos no cabelo) e fui novamente dispensado – sorte minha que, recentemente, uma amiga minha disse que ela tinha embarangado geral.

Cabelo é uma coisa estranha. E o meu, seguindo a família, não deve cair. Vai continuar, por muitos e muitos anos, cozinhar minha cabeça. Isso não deve fazer bem.