quinta-feira, 26 de abril de 2007

Olimpíadas do Faustão

Depois de muito esperar e de uma série de cagadas em seqüência, os ingressos para os Jogos Pan-americanos vão finalmente ser vendidos, ainda que on-line (clicando nos links de site ao longo do post), a partir do primeiro minuto do dia 27 de abril. Uma puta dica de férias pra quem não vai fazer nada na segunda quinzena de julho, não fossem alguns pontos ligeiramente negativos em cima disso tudo.

Os ingressos vão à venda exatamente 77 dias antes da abertura oficial. Uma diferença um bocado significativa em relação a competições internacionais. Se eu tivesse que comprar ingressos para assistir aos jogos da Euro-2008, imagino que a partir de dezembro, no mais tardar, eu já poderia comprar os bilhetes. Seis meses antes da cerimônia de abertura. Aqui, bom...

Pra falar a verdade, era para os ingressos estarem à venda há 23 dias, quando faltavam 100 pro começo do Pan. O Co-Rio acabou adiando porque o site não compreendia mais que 2 mil acessos ao mesmo tempo. Legal, pelo menos fizeram alguma coisa pensando no torcedor. No entanto...

No entanto, algumas coisas valem um olhar um pouco mais crítico. Deixando o atraso bisonho de lado, já começo a ser um pouco catastrófico e ver as primeiras merdas acontecerem logo mais, até porque a assessoria de imprensa do comitê organizador parece saber menos do que o cara que entrar hoje à meia-noite pra comprar seus bilhetes. Imagino que vão ser várias falhas que, se a Ticketronics e o Co-Rio não tomarem cuidado, a imprensa vai cair matando em cima. E eu faria isso com o maior prazer, ainda que seja mais legal falar dos playoffs da NBA ou dos torneios de tênis que acontecem por aí.

O principal problema que virá por aí merece um destaque. Os responsáveis decidiram colocar um limite de compra de eis ingressos por pessoa para cada evento. Muito bom para evitar que cambistas façam a festa pela internet. Todavia, o cambista pode esperar algumas semanas e, em 1º de julho, poderá comprar quantos ingressos quiser nas bilheterias espalhadas pelo Rio de Janeiro. Tudo bem que apenas seis bilhetes vão poder ser adquiridos por cabeça, mas não há limite de quantas vezes a cabeça pode passear nos guichês da Cidade Maravilhosa. Ninguém vai anotar nada, nem RG, CPF, fisionomia e muito menos juramentos com pés juntinhos. “Nem na Europa também é assim e não dá pra controlar. Vai pelo bom senso”, disse um dos caras responsáveis pelas vendas em uma entrevista coletiva há três semanas.

O foda é que, sei lá, não vejo o Palmeiras à frente de nada na Europa, e ainda assim eu me lembro de um jogo que eu fui em 2005 e um amigo meu não pôde comprar a meia entrada com o meu RG porque eu já havia comprado e meu número já tava cadastrado. Sei lá, tem cada maluco nesse mundo...

Logo depois de pensar isso, o próprio cara que disse que na Europa não acontece isso acabou por mudar de tom. “Até dá, mas ia causar muito tumulto na fila”. Legal. Ainda assim, não vai ter controle algum entre nenhuma das bilheterias, e estas vão estar às moscas enquanto os cambistas faturam uma grana. Sendo assim, o que vai ter de neguinho correndo do Maracanã pro Júlio Delamare e daí pro João Havelange e sair com um sacolão de ingressos não vai ser brincadeira.

Mesmo assim, vale a dica: Se você não vai fazer nada em julho, seria uma boa viajar ao Rio de Janeiro e ir assistir ao Pan; mas antes é importantíssimo comprar a droga do ingresso o quanto antes no site. Além de ser uma oportunidade fodíssima, é uma chance única de ver a seleção masculina de vôlei ganhar mais alguma coisa, ou então ver Flávio Saretta e Ricardo Mello para o prêmio Guga de melhor tenista brasileiro da atualidade. Ou então de ver o próprio tri de Roland Garros dando suas últimas raquetadas como profissional.

Isso sem falar que todo mundo vai poder ver o melhor sexto jogador (nessa ordem) da temporada regular da NBA em atividade, atuando ao lado do ala/pivô mais sem noção da Conferência Leste e também o primeiro brazuca draftado pela liga norte-americana de basquete. Isso se eles vierem. Se não der, tem o Thiago Splitter, que vem mandando bem na Euroliga, mas não é a mesma coisa que ver Leandrinho, Varejão e Nenê.

Se eu pudesse, me mandaria pra lá para ver alguma coisa assim. Ou então uma natação sem Phelps e também alguma coisa de saltos ornamentais com o César Castro. É só ele não pipocar que até rola de ficar na frente do Despatie. Em todo caso, vale a dica...

Ou então se você não tá a fim de ficar vendo um monte de jogos sem sentido, fica o conselho de enriquecimento ilícito, mas rentável ao quadrado. Junte mil reais e compre alguns ingressos por R$ 20. Aprenda o vocabulário básico (Pan-american tickets, tickets! I am selling Tickets! One hundred, One hundred! No, one and a half) e ganhe muitas, muitas pratas. Afinal, este vai ser o Pan dos cambistas, até que se prove o contrário. E uma dica: se tiver Leandrinho no basquete, os ingressos podem valer até R$200.

Isso só prova o quanto a coisa por aqui é feita nas coxas e completamente desorganizada. Pra não ficar essa coisa feia de faltar ingressos e tudo mais, poderiam juntar uma graninha e comprar figurantes da Globo pra torcerem pro Brasil. Deve ter alguma galera de Malhação e do BBB que adoraria receber uma graninha pra ficar no Rio vendo os Jogos. E aí não ficaria essa coisa chata de que faltaram ingressos ou qualquer desculpa que não cole.

As Olimpíadas do Faustão eram muito mais organizadas...

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Almodóvar, meu amigo

De tantos e-mails que eu deixo estacionado na minha caixa de entradas, um dos meus preferidos é uma resposta automática da Football Administration and Management Enviroment, que aceitou as minhas justificativas e acabou me credenciando junto à Union of European Football Associations. E agora eu sou mais um dos que se importam com a contagem regressiva. Hoje, 408 days, 22 hours, 52 mins and some secs to go.

Pra quê? Não sei. Talvez para que eu possa viajar da Basiléia a Viena e tenha fotos que na verdade não são fotos, apenas alguns pixels que não existem, mas mostram um lugar que talvez exista. E para que, daqui 59 anos, eu esteja em uma praça jogando baralho com meus amigos de mesa falando sobre as minhas desventuras por não saber mais do que dizer ‘não’ em alemão.

Um dia, talvez, eu esteja nessa praça e meus amigos não estejam mais lá. Em todo caso, será um domingo de manhã e eu tenha saído de casa para ler o jornal sob o sol, mas com uma boina e com um casaco para não me resfriar – cuidados vitais a um ancião de 78 anos. Meus amigos não estarão lá porque preferiam ficar em casa com seus filhos e netos, sem falar nos amigos dos filhos e nos amigos dos netos.

Estarei na praça, lendo um jornal, quando um jovem talvez venha me pedir para devolver a bola. Dependendo do jovem, talvez ele sente ao meu lado no banco para amarrar o tênis. E aí eu puxaria algum assunto sobre futebol e ele falaria sobre o time que torce e qualquer coisa. Talvez até critique o técnico.

“Na minha época, tinha um técnico chamado Felipão, e foi um dos melhores que eu já vi. Falei com ele uma vez, quando viajei da Basiléia a Viena. Eu não tinha muito mais do que a sua idade, na época em tinha 19 anos”. Ele se interessaria pela conversa e eu deixaria as notícias – sempre mal feitas – de lado para contar a minha história, como eu sempre faço a qualquer pessoa. “Não sabe como foi divertido. Foi meio difícil porque eu sabia apenas dizer ‘Eu não sei’ em Alemão, porque eram palavras bem parecidas com Holandês (na verdade, ‘não’ em Alemão quer dizer ‘prima’ em Holandês). Tive que imitar animais para comer e tive que desenhar para conseguir me hospedar em um hotel”. E provavelmente inventaria alguma coisa que fizesse o garoto rir e prestar atenção no que eu tivesse para falar. Até porque, daqui 59 anos, o Alemão será a língua-padrão do mundo e o moleque ia me achar um velho gagá por não saber alemão. Nicht, Ich weiß nicht.

Chegariam mais alguns moleques para ouvir o que o velho gagá de boina, meia de lã e olhos cansados teria para falar. Muitos dariam risada de tudo o que eu iria contar (e todas verdadeiras) e levariam o outro embora. Talvez porque eu iria dizer que já falei com sei lá quem e que já tinha entrevistado outro. Sei lá. As pessoas não iriam acreditar em um velho cansado, e ainda mais sozinho em um domingo de outono, em abril. Dia 22, talvez.

E eu não ia poder fazer nada, até porque 59 anos antes eu não acreditei que um cara era amigo íntimo do Almodóvar. E nem que hoje ele iria para a Europa para se encontrar com ele.

Talvez a 'Torre de Pizza', como ele disse, seja mesmo apenas uma torre que a gente nem percebe que seja torta. E talvez ele tenha remado em Veneza, e quando pediu para o guia parar o barco, o barco realmente parou.

Talvez aquele Portunhol arrastado seja mesmo Italiano.