Tem dias em que você acorda com uma vontade enorme de ler. Poderia até devorar um livro de 468 páginas fazendo apenas uma pausa para tomar um copo d’água e outro para atender o telefone.
Em dias assim é difícil de se focar em apenas uma leitura. Você começa com o jornal e passa por vários blogs. Depois de ler vários arquivos dos blogs, fuça pelos favoritos de algumas páginas até encontrar textos tão bons a ponto de serem lidos durante muito tempo.
Acordar e ter vontade de ler é uma das coisas mais divertidas que há. Mas depois de realizar todas as suas leituras espontâneas, você se lembra de que precisa ler aquele texto de 50 páginas para a prova de amanhã da faculdade.
O tema de economia é importante para a sociedade, mas não convidativo para vpcê. Nem um pouco. Mas a vontade de ler algo é tamanha que talvez não seja tão complicado assim. Não custa nada tentar.
Então você deita na cama, acende os abajures e começa pelo título. “Dados macroeconômicos da economia brasileira”. Bom, o primeiro passo já foi dado. Faltam apenas 500. E... olha, tem uma tabela... menos trabalho ainda! Vai ser fácil!
“Os dados da tabela acima contam em números a história da economia brasileira...”. Hum, hoje à noite talvez tenha alguma coisa para fazer. Puts, tem a final da Copa do Mundo de rúgbi à tarde!... “Essa história é importante para visualizar o que poderia acontecer se uma política de crescimento fosse implementada para...”. África do Sul ou Inglaterra? Depende. O Jonny Wilkinson vai estar inspirado? Se não, acho que a África do Sul leva. Não, voltando. Onde eu parei? Ah, no título.
“Os dados da tabela acima...”, ué, acho que eu já li isso. Ah, verdade. Ia começar o segundo parágrafo. “O câmbio era controlado pelo Banco Central que desvalorizava o real cerca de ...”. Ei, por que não está escrito Real, em caixa alta?.......... ah, onde eu parei? “A taxa overnight (SELIC) de juros, que flutuava ao redor de 1,65% ao mês (17% ao ano) até outubro, subiu para 3,04% ao mês (43,34% ao ano) em novembro e para 2,97% ao mês (42,1% ao ano)...”. Será que eu vou ter que decorar tudo isso? Por que tanto número?... E será que se eu multiplicar os números menores por 12 vai dar o número maior? Ah, faz de conta que sim, vai.
Então você se levanta. Abre a janela, respira um pouco. Vai à cozinha, toma um copo d’água. Mais um. E mais um. E volta determinado para a leitura.
“A desvalorização do real ficou em apenas...”. De novo em caixa baixa? “... real ficou em apenas 8,26% e a inflação ficou em nível mínimo de 2,49% ....................................”
Ahn? Ah... Inflação... inflação... cadê inflação? Ah, achei.
“... inflação foi um crescimento nulo (0,13% do PIB) e um... um... ... ... um ....................................”
“..................................................”
“..................................................”
Então você dorme. E se esquece de tudo. Até de que sabe ler.
Um comentário:
Menos mal que a prova do Adalton é... Bem, a prova do Adalton.
Eu tenho até sexta-feira para começar e terminar o Grande Sertão: Veredas, naquele linguajar simples de Guimarães Rosa.
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