sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Oscar e Bárbara. E Danilinho.

A vida do Oscar mudou em um final de tarde de janeiro muitos anos atrás. Quando tinha seis anos de idade recém completados, voltara da praia com o pai e, ao chegar em casa, correu para abraçar a mãe, que preparava o jantar no fogão velho daquele lugar, esquecido durante os outros 11 meses do ano.

“Agora não, filho, dá um tempo! Não tá vendo que a mamãe tá fazendo a comida? Depois, depois você me abraça”, ralhou a mãe. Naquele instante, Oscar percebeu pela primeira vez que a vida pode ser ruim. E que os relacionamentos podem ser abalados de acordo com o que vai haver para o jantar.

Hoje o Oscar quase não se lembra daquela história. O Ivo, um amigo antigo, uma vez ouviu um dos poucos depoimentos sobre o caso. Não foi nada de mais. “Faz 19 anos que isso aconteceu, cara. Lembro só que um dia eu cheguei em casa muito feliz com uma estrela-do-mar no bolso... mas não tive vontade de jantar, agora não me lembro por quê. Faz muito tempo...”

E é só disso que o Oscar se lembra. No entanto, muitas coisas ficaram guardadas em sua mente, ainda que de forma imperceptível. Por exemplo: ele nunca convidou nenhuma namorada para jantar. Se fosse uma noite especial, tomavam um café. E rápido.

Mas o Oscar gostava mesmo era de almoçar com suas garotas. Quando completava um mês de namoro, sempre levava a namoradinha para almoçar. E fazia com que não fosse apenas uma refeição singela. Antes, ele sondava as amigas de sua quase amada para tentar descobrir a descendência da menina. Descoberto o país, ia com a sua pequena no melhor restaurante típico da cidade. Tudo isso começou quando ele tinha 12 anos e almoçou com a Juliana, sua primeira namorada e filha de árabe, na Esfiha Chic.

Uma vez Oscar namorou a Marina, cujo pai, Urmas Terehhov, havia vindo da Estônia. Foi a única que não almoçou com o namorado no primeiro mês de relacionamento. Não foi culpa dele.

Só que os namoros do Oscar nunca duravam muito tempo depois do almoço típico. O Oscar tinha um defeito: entregava-se tanto no relacionamento que se subordinava a todos os pedidos da garota. E o pior: ele deixava muitos compromissos de lado para atender às vontades de suas parceiras amorosas. Elas, inevitavelmente, se cansavam.

Uma vez, para se ter uma idéia, ele deixou de ir ao casamento do Ivo para acompanhar a Natália, a namorada da vez, em um chá de bebê. Ela, claro, terminou o relacionamento no dia seguinte. “Preciso de uma aventura nova”, disse a garota, que até hoje guarda as cartas de amor que ele escreveu.

Uma vez o Oscar decidiu mudar. E foi justamente quando namorava a Bárbara, descendente de armenos, que adorou o almoço na Casa Garabed. Uma vez, todavia, ela chamou o namorado para ir ao show do Pato Fu. Ele odiava. Falou que não iria. E não importava que ela o aniversário dela. Ele tinha que comemorar o aniversário do Danilinho, filho do Ivo, que completava dois anos na mesma data.

A Bárbara gritou. Ameaçou terminar o namoro. Queimou as cartas de amor. Foi ao show sem aliança no anular direito. Olhou para todos os caras no show e até piscou para um deles. O Oscar, enquanto isso, tomava um copo de uísque com o Ivo. E até fumou um cigarro só para deixar a Bárbara nervosa. Ela odiava cigarros. Ele também, mas nunca havia contado isso para ela.

O Oscar chegou em casa bêbado naquela noite e dormiu sem sequer lembrar da namorada. Mas sonhou com ela, claro. A Bárbara, sóbria, não conseguiu pregar os olhos. Pensava no Oscar. Estava amando.

Oscar e Bárbara, hoje, estão casados. O Oscar começou a fumar depois daquela noite. A Bárbara também, mas só para alegrar o marido.

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