Uma das coisas de que muita gente duvida é como aquele casal conseguiu completar cinco anos de casado.
Era uma união que desde o começo estava fadada ao fracasso. Quando namorados, pouco se viam e raramente comemoravam datas importantes, como aniversários, reveillons e coisas do tipo.
Na época de noivado, então, esparsamente eram vistos em público juntos. E, quando decidiam quebrar a rotina e passar uma noite de sábado fora, quase nunca procuravam companhia. E passavam horas frente a frente em uma mesa de um restaurante, bar, café ou algo do tipo conversando e bebericando alguma coisa.
A cerimônia do casamento, porém, não foi diferente do tradicional: Igreja, atraso da noiva, nervosismo, suor, marcha nupcial, beijo quando o padre permitia, saída da igreja, festa, valsa, música anos 60, Biquíni de bolinha amarelinha, Twist and Shout...
Enfim, casaram. Mas quase ninguém botava fé no sucesso do matrimônio. Não por maldade, apenas por lógica. Ele, gerente de um shopping center, passava grande parte do dia fora. Saía bem cedo, poucos minutos depois de o sol nascer, e voltava já bem tarde, quando as ruas ficavam inóspitas. E trabalhava aos finais de semana quase sempre. Ela era escritora, mas poucas pessoas conheciam seus livros. Sua principal fonte de renda eram as aulas particulares de redação.
O casal quase nunca se encontrava. Quando ele saía para o trabalho, ela ainda estava dormindo. Quando chegava em casa, ela já estava dormindo. E ele, que tinha problemas para pegar no sono, sempre se esforçava para fazer o maior silêncio possível para não acordar a esposa. Ao se deitar na grande cama de casal, aliás, respirava lentamente para não acordar sua convivente.
E hoje, depois de cinco anos, decidiram organizar a primeira festa depois de cinco anos. Festa, aliás, é exagero. Chamaram alguns amigos, que até acharam estranho o convite.
Só que o que mais chamou a atenção na confraternização foi o fato de que passaram grande parte do tempo em lados opostos do salão. Ele, com os amigos, falava sobre política, esportes e piadas, enquanto ela falava sobre literatura, sociologia e afins com as amigas.
Todos foram embora com uma certeza em comum: o casamento não duraria mais três anos. Todos erraram.
Pouca gente sabe o que mantém aquele casal unido até hoje. Só ele e ela sabem.
Pouca gente sabe que, todos os dias antes de sair de casa, ele escreve algumas palavras para ela em um guardanapo, que ela lê, beija, dobra com cuidado e coloca no bolso da calça que usará durante o dia.
E pouca gente sabe também que ela, todos os dias, se senta na mesma cadeira da praça de alimentação do shopping em que o marido trabalha e escreve uma crônica, que deixa sobre a mesa da sala para o marido ler fervorosamente quando chega em casa.
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