Já ouviu falar na história do Ângelo?
Tudo bem, não são muitas as pessoas que conhecem. Nem mesmo o próprio Ângelo conhece. Afinal, quem é o Ângelo?
Bom... o Ângelo era um cara sensível. Inocente em muitos casos. Ou quase todos.
Para se ter uma idéia, quando era adolescente, ele se apaixonou por uma menina do mesmo bairro em que morava. Na esperança de vê-la todos os dias, mudou o caminho de casa só para passar na casa dela. Acabou se acostumando, e faz o caminho até hoje. Mesmo sabendo que ela não mora mais naquela casa.
O Ângelo fazia muitos amigos. Não tinha problemas em conhecer as pessoas e nem em confiar nelas. Muitas vezes, contava muitas coisas de sua vida porque confiava cegamente nas pessoas. O Ângelo, você deve ter percebido, não era um cara normal.
Uma dia desses, o Ângelo estava voltando para casa quando decidiu alugar um filme para ver de madrugada. Escolheu uma comédia romântica italiana e continuou o trajeto. No meio do caminho, entretanto, encontrou um velho amigo e começaram a confabular. Decidiram parar em um bar para conversar sobre a vida, mas acabaram falando sobre mulheres. O Ângelo era um pouco diferente, mas nem tanto.
No bar, Ângelo tomou uma caipirinha. Claro, levantou para ir embora e percebeu que estava meio bêbado. Mesmo assim, pegou o trem no Brás com destino Estudantes. Quando o trem parou e abriu as portas, levou um susto ao ver uma garota que conhecia e tentou disfarçar. Acabou entrando na porta ao lado e tentou não ser visto.
Quando as portas se fecharam à sua frente, percebeu que poderia espiar a garota pelo reflexo do vidro. Mesmo assim, abriu um livro em uma página qualquer e fingiu ler, enquanto espiava a menina se engraçar com um amigo.
Sentindo-se um detetive, Ângelo ficou de olho na menina, que se abraçava ao outro cara. O outro rapaz, aliás, tentava a todo momento dar um beijo na menina. Ela dava um sorriso, desviava o rosto... e os dois ficaram nisso durante algumas estações. Algumas. Quando chegaram à estação Suzano, Ângelo viu uma mão em uma nuca, um braço em um ombro, duas cabeças ritmadas. Um beijo? Um beijo...
Ângelo sentiu um aperto no coração. A garota, noiva de um amigo, estava beijando um cara no trem.
Ângelo desceu duas estações depois e voltou para casa perturbado. Sentia-se na obrigação de ligar para o amigo e contar tudo o que tinha acontecido. Pensou em como explicar a situação. Seria complicado.
A dúvida corroía o pensamento de Ângelo quando ele abriu o portão de casa. No mesmo instante em que girou a maçaneta da porta da casa, acabou se esquecendo do mundo. Seu pai, imediatamente, deu-lhe um abraço. Era gol do Brasil, que ganhava o campeonato. Que campeonato? Que importa!?
Ângelo e o pai comemoraram. Tomaram uma, duas, cinco caipirinhas.
Ângelo acordou no dia seguinte de ressaca. Não sabia como tinha chegado em casa e nem como tinha colocado o pijama antes de dormir.
A única coisa de que se lembrava era o título do Brasil.
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