Às vezes tenho raiva da minha memória tão boa para certas datas. E todo dia me pergunto por que diabos não faço uso de tal advento para algo prático, como por exemplo decorar o ano de nascimento dos principais jogadores do futebol mundial (o que me pouparia vários acessos diários à Wikipedia). Mas não é o caso.
Deitado na minha cama na vã tentativa de dormir relativamente cedo, lembrei que dentro de dez dias completará dois anos que encontrei uma melhor amiga pela última vez. Eu estava com conjuntivite e ligeiramente deprimido. Ela precisava bater um papo com alguém e veio no meu prédio me visitar. Conversamos. Rimos. Bebemos um pouco. Avançamos alguns sinais que jamais deveriam ter sido avançados. Demos um abraço e nos despedimos. Não para todo o sempre, mas foi o que acabou acontecendo.
Ainda tentamos conversar depois de então. Nos dias que se sucederam ao nosso último encontro, ela me ligou algumas vezes. Não tínhamos muito assunto. Talvez fosse melhor o tempo nos reaproximar.
Uma vez, no meu primeiro dia de trabalho, fui a um show e por um leve instante achei que ela estaria por lá. Andei por quase todo o lugar e, para minha sorte, tinha me enganado. Quer dizer, mais ou menos. Algum tempo depois, ela me disse que estava lá. Enfim. Continuamos sem ter o mesmo contato de antes.
No entanto, uns meses atrás, em uma sexta-feira de feriado, me lembrei dela ao sair do trabalho. Enrolei alguns minutos até tomar coragem de ligar para ela e convidá-la para, sei lá, tomar um café. Coisa besta. Colocar os assuntos em dia. Tinha várias coisas para contar para ela, que ao mesmo tempo teria várias coisas para me contar.
Naquele dia ela não pôde sair e me pediu para ligar no seguinte, mas um ‘compromisso inadiável’ por parte dela melou o nosso compromisso. Ainda liguei alguns meses depois e marcamos de nos encontrar em uma segunda-feira. Eu sabia que ela não iria aparecer. E não apareceu. Apaguei o telefone dela da minha agenda e esperei um dia ela me ligar.
Claro que não ligou.
Ela não deve se lembrar de que 20 de outubro de 2005 foi uma quinta-feira ensolarada até as 16h30, mas que esfriou em menos de meia hora. Também não deve sequer ter idéia de que foi a última vez em que nos vimos.
Mas não a culpo. Até porque, pensando bem, não me lembro mais do rosto dela. A única recordação que me resta é uma data.
Nenhum comentário:
Postar um comentário