quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Volatilidade

Fábio era um cara que tinha seus hábitos peculiares. Desde pequeno.

Quando criança, gostava de acompanhar o Jornal Nacional para ver a cotação da Bolsa de Valores. Sempre que o âncora anunciava o valor, anotava em um caderninho e ia correndo falar para o pai que a Bovespa tinha caído em meio ponto percentual pela oitava vez em 15 dias.

Um pouco mais crescido, no início da adolescência, acordava mais cedo do que a família inteira e ia pegar o jornal na porta de casa. Antes de sequer ler a manchete de capa, abria o periódico para ver a cotação do dólar. E logo em seguida mandava um e-mail para o tio, que morava na Escócia e vendia Havaianas com o preço variando de acordo com o mercado internacional.

Chegou aos 17 anos e fez a inscrição para o primeiro vestibular. Pensou em vários cursos, mas acabou se candidatando para Economia. Não entendia muita coisa sobre o assunto, mas gostava de economizar. Prova disso era a nota de R$ 100 que guardava no fundo do armário desde os sete anos.

Passou na faculdade de economia, mas preferiu fazer outro curso: havia percebido que gostava de Publicidade e Propaganda. E que se daria melhor na área de comunicação do que em um outro curso qualquer. Acabou se mudando para a cidade grande e alugando um apartamento.

Poucos meses depois de ingressar no Ensino Superior, conseguiu um estágio na maior agência de publicidade do país. Como ia ganhar um salário generoso, decidiu abrir uma conta em um banco. Quase ninguém sabe do orgulho que ele sentiu quando recebeu seu primeiro cartão de débito.

O Fábio era um cara estranho, lembra? O segurança do banco percebeu isso alguns dias depois de ver o jovem adulto abrir uma conta e, todos os dias, às 23h40, passar no mesmo caixa eletrônico da agência, depositar uma quantia e depois retirar o extrato.

Duas coisas que não explicaram para o segurança. Primeiro, que o Fábio desde pequeno gostava de ir ao banco com o pai e digitar a senha no caixa eletrônico. A outra é que o Fábio tinha percebido que, se depositasse uma pequena quantia na conta poupança, teria um rendimento diário, ainda que praticamente insignificante. Mas tinha a sensação de ganhar um pouco mais.

Fábio era tão ligado no dinheiro que praticamente não gastava o salário. Dos R$ 1.400,00 que ganhava por mês, tirava o necessário para pagar água, luz, condomínio, telefone e supermercado (que não era muito) e guardava o resto na poupança. Viveu essa rotina durante dois anos. Até que um dia deu um pulo de alegria ao ver que sua conta havia chegado à dezena de milhar.

Ter mais de R$ 10 mil na conta era muito mais do que o Fábio podia imaginar. Aproveitou um dia de folga para retirar todo o dinheiro da conta e comprar um carro. A gerente tentou persuadi-lo a deixar a grana toda na conta, deixar render por mais alguns meses. Em vez de pegar o carro usado, poderia conseguir até um zero km. Mas não teve jeito. Ele decidiu encerrar a conta. E no mesmo dia saiu do banco com uma sacola de supermercado abarrotada de notas.

Fábio se sentiu a pessoa mais importante do mundo ao sair do banco com R$ 10 mil. Tanto que até esboçou um passo de dança quando virou a esquina. Mas justamente no momento em que dobrou a esquina, foi abordado por um cara com uma arma.

Fábio foi assaltado, e em menos de nove segundos perdeu todo o dinheiro que tinha batalhado tanto para conseguir.

Fábio, então, entendeu o que significava capital volátil.

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