Era para ser meu dia de folga. Era, porque o desembarque da seleção brasileira feminina de futebol mudou a minha escala. Quando fui informado disso, na segunda-feira quase à noitinha, vi meus planos da terça-feira livre ruírem, desmoronarem, tombarem, desabarem...
Ah, sim, meus planos. Meu planejamento era mais ou menos assim: acordar às 11h30, ficar jogado na cama durante mais meia hora, sair de casa, almoçar qualquer coisa na padaria do outro lado da rua, voltar para a cama e ficar nela até as 19 horas. Então eu levantaria, tomaria banho e voltaria à cama até o sono bater.
Mas não foi o que aconteceu. Levantei às 6h30, tomei banho, fiz a barba. Vi o telejornal matinal, peguei o metrô lotado, atravessei a rua correndo e tomei um café grande antes de bater o cartão às 8h56.
Só que se engana quem pensa que eu reclamei. Pelo contrário. Apesar de estar em uma fase de questionar o sentido da vida, tive a prova de que, de fato, Deus ajuda quem cedo madruga. Minha mãe me dizia isso todo dia quando eu tinha cinco anos e eu não entendia direito. Sempre acabava pensando no Seu Madruga.
Revivendo o clima de trabalhar de manhã, percebi que estava em um ritmo alucinante, muito superior ao que eu costumo apresentar no período vespertino. Isso só fez com que eu batesse o cartão na saída dando risada. Não por ir embora, mas por ter tido um dia expediente. Vai entender.
O dia estava tão bom que eu não pensei em voltar para casa. Almocei e logo depois me sentei no mesmo lugar de sempre para ler mais algumas páginas do livro. Depois decidi ir ao cinema. Comprei o bilhete, tomei mais um pouco de café e entrei na sala, vazia, com apenas três velhinhas conversando sobre cozinha. Geralmente cinema sozinho é deprimente. Hoje foi sensacional.
Poderia ter voltado para casa quando o filme acabou. Mas tinha gostado tanto da história que preferi fazer planos para a minha vida. Pensei em aprender um novo idioma durante as férias. Ou pelo menos tentar.
Enquanto pensava, saí andando por uma avenida, em um ritmo lento e tranqüilo, sem me importar com o trânsito, com os motoristas, com nada. Enquanto os carros iam para um lado, eu andava na contramão até virar em uma alameda, depois em outra... e andar por ruas estreitas que subiam, desciam, viravam à direita e depois à esquerda.
Seguindo-as, caí em uma praça que jamais pensei que existiria em São Paulo. Com bancos confortáveis, grandes, espaçosos. Muitos bancos. Neles, pessoas sentavam enquanto viam os cachorros correrem, brincando com os outros cachorros. E conversavam sobre as notícias do jornal. Davam risada.
Reabri meu livro e mergulhei na história. Depois de muito tempo, percebi que havia ficado escuro e todas as pessoas que brincavam com os cachorros haviam ido embora. Também me levantei e parti.
Atravessei a rua, percebi um bar vazio e com uma televisão ligada. Ainda tinha o gosto do café do cinema na boca. Comprei mais uma xícara e tomei, vendo alguma reprise de futebol europeu. Foi no terceiro café que eu percebi que, se tem uma pessoa que já foi feliz na face da Terra, essa pessoa trabalhava meio expediente durante a manhã.
Entendi isso hoje, depois de muitas semanas trabalhando todos os dias das 14 às 19 horas.. E pensar que, durante os oito meses em que eu entrava bem cedo, não tinha me dado conta do quanto poderia ter aproveitado.
É sempre assim.
2 comentários:
Não é uma praça ao lado do Parque Trianon?
Eu sempre gostei de trabalhar de manhã, porque o dia parecia render mais. Hoje, que eu estou à tarde, os cartões batidos antes das 14 horas são ainda melhores!
Eu sempre achei que muito café faz mal. Até mesmo para os gigantes.
Só para você estar ciente de uma dos sorocabanos que, às vezes, fuça seu blog (: hahaha
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