Buenos Aires (Argentina) - Com o 'Roma, 32' na cabeça, peguei o ônibus em Paseo Colón e parti para Olivos. Quando subi no autobus, descobri que os autobuses só aceitavam moedas, nada de notas (billetes, por aqui). Eu tinha apenas 50 centavos, precisava de mais algumas moneditas. Um cara de uns 20 anos, bem solícito a ajudar o gringo perdido, me deu mais 50 centavos e se recusou a aceitar os meus 2 pesos para trocar por moedas. Gente fina.
Quando sentei, vi que no banco ao lado estava uma garota cujo rosto lembrava minha antiga paixão argentina de infância, porém com cabelos e olhos escuros (e a minha antiga paixão argentina de ifnância tinha cabelo castanho claro e olhos verdes). Fiquei olhando e pensei que poderia... sei lá, ser a irmã dela. Sim, tinha tudo para ser a irmã dela, e... e ainda estava indo para Olivos. Sim, era um sinal! Maravilha, as coisas não poderiam continuar tão ruins.
Só por segurança, perguntei para uma mulher mais velha ao meu lado no ônibus se ela conhecia a Calle Roma, em Olivos. Ela não conhecia. Por um momento achei que a rua não existia, mas não desisti. Também não desisti quando uma outra velhinha me pediu para ajudá-la a levantar, já em Olivos, e eu perguntei como fazia para chegar lá. Ela também não conhecia a Calle Roma.
No ponto final do ônibus, perguntei ao motorista se existia a Calle Roma. Ele disse que sim, mas que eu deveria ter descido uns três quilômetros antes. Agora, precisava pegar de novo a linha 152 (La Boca – Olivos). E trocar 2 pesos em nota por moneditas.
Aqui em Buenos Aires as moedas valem mais do que notas. Ou pelo menos é o que parece. Ninguém gosta de dar moedas de troco, mas todos adoram recebê-las. É estranho. Mas consegui trocar uma idéia com um segurança de rua (Hola, soy brasileño, me roubaram la plata e la tarjeta del banco, sabe onde pueso cambiar esta nota por moneditas para pegar el autobus?) e ele se prontificou na hora a trocar. Gente fina, também.
O segundo ônibus da linha 152 me deixou na esquina da Maipú com a Roma. Ah, a Calle Roma! Era o número 1.600 crescendo. Atravessei a rua e parti em busca do número 32, e notei uma rua extremamente residencial, com alguns nomes judeus e casas muito bonitas. Bom sinal: ela dizia que era judia e vivia em uma casa com piscina... é, as coisas estavam ficando melhores.
Passei pelo número 1.300, pelo 1.200, pelo 1.100... quando me peguei em frente ao 900já estava chegando, no 800 estava mais perto, no 700 já era mais que meio caminho andado. No 600 tinha uma casa de cultura italiana (ótimo sinal, ela estudava relações internacionais com base em italiano na UBA, a Universidade de Buenos Aires). O quarteirão do número 500 era cortado por uma linha férrea. Me senti ainda mais perto quando passei pela quadra do número 300... e o do 200... ah, já era o último quarteirão.
Mas o último quarteirão me reservou duas sensações extremamente diferentes. Ao passo em que tinha um sobressalto por estar me aproximando do número 32, percebi que as casas eram muito, muito pobres. Independentemente disso, segui na busca. Número 182, 180, 176, 173, 165, 161, 154, 143, 133, 132, 19, 5... opa, peraí? Perguntei para uma chica na rua onde tinha o número 32. “No hay”. Na hora, só consegui dizer “La puta madre!”.
Demorei uns cinco minutos para compreender o que de fato tinha acontecido. Nada de número 32, nada da antiga paixão. Decepcionado, coloquei as mãos nos bolsos e voltei para a Maipú. Estava no número 500 quando pensei que a memória poderia ter me traído: não era 320? Sim, poderia ser no 320... às vezes minha memória me trai, mesmo... por que não?
Voltei duas quadras, mas... não havia também número 320.
Reencontrar a antiga paixão era um os itens que eu tinha colocado na lista de objetivos a cumprir até fazer 30 anos. Hoje, estou achando que a tal paixão nunca existiu. A mulher mais bonita que eu já vi talvez tenha sido apenas... apenas fruto da minha imaginação. Melhor pensar assim.
Para não perder o dia já perdido, passei em um mercado na Maipú e troquei a nota de 50 pesos que os trombaditas não encontraram. Comprei um gatorade por 3 pesos, uma bolacha por 1,50 peso e peguei todo o troco. Foi o meu almoço, tomado no ponto do ônibus 152, a cara do domingo.
Incrível como domingos conseguem ser bem chatinhos. Seja no Brasil, seja na Argentina.
3 comentários:
Do jeito que você anda zicado, é capaz de estourar uma guerra na Argentina nos próximos dias..
Porra, como assim!? Não achou a mulher, então?
nossa, tô com dó de ti. sério?!?!
espero que os dias aqui em porto alegre tenham momentos melhores!!
;)
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