Achei que já estava acostumado a despedidas depois de quase uma semana em Buenos Aires, mas, para variar, estava enganado. Na minha última noite na Argentina conheci a Nina, uma alemã extremamente simpática e com quem conversei por um bom par de horas.
Com a Nina falei sobre quase todos os assuntos possíveis. Ela ainda me ‘convidou’ para ver um filme blockbuster no albergue e se prontificou a preparar um té com leche para mim antes da película. “Está todo molhado, chico, é muito novinho para se resfriar”, ela disse, em um ótimo espanhol sem quase nenhum sotaque. Ah, a Nina tinha 28 anos, embora parecesse ter uns 24.
Estava pronto para chamar a Nina para jantar depois do filme, mas ela foi se deitar assim que os créditos subiram. Isso às 21h30. Tinha que acordar às 4 para ligar para sua mãe na Alemanha para, assim como eu, pedir dinheiro para a família. Teve problemas com o cartão em Buenos Aires.
Antes de ir para a cama, no entanto, a Nina pegou uma caneta e um papel e pediu meu e-mail. Me chamou de herói quando viu meu sobrenome, deu uma risada bem simpática e perguntou se eu poderia anotar também o seu contato. Como se fosse necessário perguntar.
Ela escreveu seu e-mail com uma letra bem bonita. Fiz o elogio; ela corou e disse que tinha uma letra horrível. Mentira. Além de muito simpática e muy hermosa, ainda era modesta. Gostei dela, da Nina.
Uma coisa que me chamou a atenção nessa alemã de Hamburgo foi seu sobrenome: Azimi. Perguntei a origem pronto para ouvir Líbano ou Síria, talvez Irã, quando ela disse Afeganistão. Claro que tive que conter meu impulso idiota de perguntar sobre os Talibãs (como eu sou besta!). Mas consegui me segurar e dizer “Pô, mas você não parece afegã. Eu pareço muito mais do que você, e isso porque tenho raízes holandesas”. Ela riu. Simpática.
Estava eu pronto para uma despedida estilo alemã (apenas dizer tchau) quando ela me abraçou, disse que havia sido um prazer enorme me conhecer e que me escreveria assim que chegasse à Alemanha. Respondi que não iria falar nada a ela a não ser “boa noite” porque fazia questão de vê-la na manhã de terça. E foi o que aconteceu.
Pedi para o Pablo, do albergue, me acordar às 7 da manhã para terminar de fazer as malas. Ele me chamou exatamente no horário e, logo que cheguei à recepção, a Nina estava lá, com uma toalha enrolada na cabeça. Tinha acabado de sair do banho. “Oh, nice, very nice to see you again, Nina”, eu disse.
Sentamos em frente à TV e começamos a ver Chaves (sim, passa Chaves na Argentina!). Ela não entendia por que diabos eu ria tanto daquilo, mas pareceu não ter odiado o genial seriado que embalou a infância de (quase) todo o Brasil. Até que meu táxi para o aeroporto chegou e, enfim, tive que me despedir.
Dei-lhe um apertado abraço e disse-lhe que havia sido ótimo tê-la conhecido. Estava prestes a dizer algo bonitinho quando ela se precipitou e disse exatamente o que eu ia falar: “Hasta luego, Felipe, y no adiós”. Repeti o que tinha ouvido e acrescentei. “Se decidir ir a São Paulo algum dia, tem a obrigação de me escrever”. Ela também me falou para fazer o mesmo quando eu decidisse ir a Hamburgo, porque fazia questão de me ver de novo.
Dei mais um forte abraço na Nina, virei as costas, desci as escadas do albergue e entrei no táxi. Com quase que uma tristeza por ter que ir embora e, também, odiando a minha facilidade de me aproximar das pessoas. “Por que ser tão simpático, me apegar e tudo mais tão rapidamente se ainda não sei lidar com as despedidas?”, eu me perguntava.
Seja lá como for, passei a ponderar a hipótese de ir à Alemanha. E à Suíça, e a mais alguns países também. Bom, hora de economizar. Mas não agora, porque minha viagem de férias toma novo rumo.
Um comentário:
Conhecer estrangeiros em outro país, também estranho para eles, é demais. Parece que longe de casa ficamos muito mais abertos a conhecer novas culturas, tendo contato direto com as pessoas que vêm de lugares tão distantes e diferentes.
Tomara que você reencontre a sua amiga Nina!
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