Porto Alegre (RS) - Passei dez dias em um outro país pela primeira vez em 20 anos. Na Argentina ouvia castelhano o tempo todo. Na televisão, no albergue, nos restaurantes, no teatro, no cinema, nas ruas... me deixava instigado o fato de que até as crianças falavam outra língua, e não o português.
Eu, mais do que acostumado à Flor do Lácio, achava extremamente engraçado ver a gurizada de três anos já falando um espanhol muito melhor do que o meu (também conhecido como portunhol com sotaque portenho, ou engana cabrón). E quanto aos cachorros, então? Eles atendiam a ordens em espanhol! Era bem engraçado.
Além do castelhano, também ouvi muito inglês. Acho que me comuniquei mais em inglês do que em espanhol, para falar a verdade. E tinha uma facilidade muito maior para me expressar quando conversava no idioma britânico. Podia até fazer algumas piadas engraçadas, ter um papo cabeça... era melhor, resumindo.
Lá, tirando os relatos que escrevia neste blog, as conversas por telefone com a minha mãe, um ou outro e-mail trocado com pessoas aqui no Brasil e alguns compatriotas no albergue, praticamente esqueci o português. Não pensava em português, nada. Era estranho. Às vezes me lembrava de uma palavra em inglês ou em espanhol antes mesmo de sua correspondente em português. Daí o motivo para algumas das postagens passadas terem sido recheadas em inglês.
Aqui no Rio Grande do Sul ainda estou tentando me adaptar. Nos dois vôos (Buenos Aires-SP e SP-Porto Alegre), agradecia às aeromoças pela saborosíssima barrinha de cereal da Gol falando gracias. Voltar a ouvir português nas ruas e na televisão me soou um pouco estranho. Algumas vezes até passava por duas pessoas na rua conversando e demorava um pouco para entender sobre o que falavam.
Creio que agora já estou um pouco mais bem adaptado, quase voltando ao normal. Muito embora ontem, na noite gaúcha, ainda tenha trocado umas palavras com um australiano por aqui e tenha sentido uma facilidade tremenda. Estava sentindo falta do present perfect, vai.
Mas não é só disso que sinto falta. Pode parecer loucura, mas passados exatos 15 dias de férias, sinto falta também de escrever um lide. De reproduzir uma aspa, ou até mesmo de fazer uma entrevista.
No fundo no fundo, estou sentindo falta da minha velha rotina. Da poluição de São Paulo, do incansável barulho nas ruas, de dirigir no trânsito caótico da Avenida Paulista em reforma, dos almoços e das cervejas com os amigos de data mais longa. Da minha casa, da minha cama... e de mim, para falar a verdade.
Sei também que vou me arrepender de tudo isso que estou falando, também.
3 comentários:
Eu não vejo a hora de Pequim acabar (e olha que nem começou!) para que eu possa viajar por aí.
Eu... eu não quero voltar. =( Não to com a mínima saudade da faculdade, honestamente.
E como não to de férias do trabalho... pelo menos dele eu não to cansada, ainda.
Voltando de viagem, já no Brasil, agradeci a mulher da banca e o cara do táxi em inglês.
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