Porto Alegre (RS) - Abri os olhos pela manhã e não sabia onde estava. “Humm, estou em uma cama grande, então aqui não é Buenos Aires. Essa cama é de casal, então também não é nenhuma das minhas duas em São Paulo. Caramba, onde eu estou? E que dia é hoje?”, pensei.
Precisei de uns 30 segundos para lembrar um pouco do que estava acontecendo. “Caramba, estou em Porto Alegre, é verdade! Cheguei ontem no final da tarde, voltei para o mesmo hotel que da outra vez. Tá, mas que horas são? Deve ser bem tarde, já”, segui na minha conversa interna.
Na verdade não era tão tarde assim. Deu tempo de tomar banho (bem mais fácil do que da outra vez) e ainda ver o finalzinho dos Simpsons, antes de sair para explorar o Bom Fim. Tomei café da manhã (tudo bem que já era 1 da tarde) na mesma mercearia de sempre, andei pela Independência com as mãos nos bolsos e cheguei a uma agência do banco para saber se poderia esclarecer os acontecimentos trágicos passados em Buenos Aires.
Com muita sorte consegui vencer algumas burocracias bancárias. Ainda almocei qualquer coisa, segui andando (me perdendo e me achando também) pelo bairro do Bom Fim e tomei algumas Polares em alguns bares. Ah, como me gusta Porto Alegre! E apesar de o tempo ter amanhecido nublado, o sol ainda saiu pela tarde e pude ver o céu claro e único daqui.
Pois é, estou de volta a Porto Alegre. Depois de quase dois meses da minha primeira passagem pela capital do Rio Grande do Sul, aproveitei para fazer uma pausa por aqui antes de voltar à vida caótica de sempre.
Mesmo por aqui, ainda aproveitei para colocar no papel algumas idéias que tive ainda na Argentina. Serão as rapidinhas portenhas que aparecerão neste blog talvez pela única vez (embora minha vontade seja de voltar a Buenos Aires algum dia num futuro não lá muito distante).
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Rapidinhas portenhas:
Bizarrices: Saí no sábado com o Christoph, o alemão, e fomos ao flat de um amigo dele no centro de Buenos Aires. “O cara é meio louco, mas bem legal”, me avisou. E eu deveria ter levado o alerta a sério. Assim que me sentei à mesa para tomarmos umas Quilmes Cristal (haha!), o cara me perguntou se eu jogava xadrez. Disse que sim e montamos as peças. Em poucos minutos, percebi que estava na Argentina tomando cerveja e jogando xadrez com um alemão.
Bizarrices 2: Durante as duas partidas de xadrez (um xeque-mate para cada lado), o alemão esquisito explicou que estava em Buenos Aires gravando seu filme. Sim, ele era diretor de cinema e gastaria 10 mil dólares no total e concorreria a um festival por lá. Começamos a bater um papo sobre filmes brasileiros e o cara era fã incondicional do Glauber Rocha. Não demorou para eu me dar conta de que estava na Argentina jogando xadrez e conversando sobre cinema nacional com um diretor alemão. E tomando cerveja.
Dedo na ferida: Aproveitei que estava conhecendo pessoas de várias nacionalidades em Buenos Aires para ter alguns papos intelectuais com os gringos. O primeiro que tive foi com o Alem, o californiano. Estava passando um documentário na TV sobre o 11 de setembro e perguntei o que ele achava de tudo aquilo. Estava esperando uma resposta do tipo “terrível, temos que matar todos os islãs” quando, para a minha surpresa, ele disse “normal, só houve violência assim contra a gente porque os EUA causaram violência antes”.
Dedo na ferida 2: A Alleen, norte-americana de Minnesota, estava em Buenos Aires há um ano para um período de intercâmbio do curso de jornalismo que cursava nos States. Estávamos numa madrugada tomando umas cervejas quando ela perguntou o que eu achava dos Estados Unidos. Questionei o motivo da dúvida e ela disse que teve algumas aulas de geopolítica na Argentina e se surpreendera com a forma como os EUA eram considerados culpados por todas as crises na economia mundial. “Bem, você acabou de me dizer que os colonizados culpam os colonizadores por todos os defeitos do presente, assim como vocês culpam os ingleses nos US, não? No Brasil culpávamos os portugueses, mas agora é hora de culpar vocês. I’m sorry”. Mas ela pareceu entender.
Dedo na ferida 3: No mesmo dia da conversa com a Alleen, ainda perguntamos ao Christoph sobre o nazismo. Ele, ariano cuspido e escarrado, reconheceu que foi o pior acontecimento da humanidade e disse que a Alemanha terá para sempre esse passado negro e que essa marca será muito forte nas próximas gerações. Que os germânicos tentem se orgulhar do país onde vivem, mas apagam a primeira metade do século passado. Mas o mais curioso de tudo foi ver como o tom de voz dele subiu quando tocamos no assunto. Depois de todas esses esclarecimentos, não fazia mais sentido algum perguntar a um argentino sobre Pelé x Maradona.
Cambiando las pelotas: Disse recentemente a duas amigas que os argentinos homens eram estranhos, pois se cumprimentavam com beijinhos no rosto e se chamavam de boludo. A Ní ainda perguntou se eu estava muito sendo chamado assim e esclareci que não, nunca havia sido. Até que na minha última tarde em Buenos Aires um portenho com trejeitos bem homossexuais me parou na Calle Bolívar e me perguntou se estava no caminho certo para o Parque Lezama. Respondi-lhe que não, que o parque era para o outro lado. Para fingir conhecimento, ainda expliquei que no caminho ele teria que atravessar a San Juan, a Garay e a Brasil. “Puta la madre, como yo soy pelotudo. Estoy caminando y caminando e estoy en otra dirección. Bueno, gracias, boludo”. Comecei a rir na hora e só parei depois de chegar à esquina e ver que eu havia me enganado na hora de sair do café onde estava e também estava na direção errada. E, conseqüentemente, tinha passado a informação errada para o cara. Bateu até peso na consciência.
5 comentários:
Segundo minha fonte cordobense, boludo é a pior ofensa do mundo inteiro quando dita seriamente...hahahaha...
grande retorno.
;)
Opa, até que enfim! Já era de voltar mesmo, não? :)
Cara, juro que morri de inveja por aqui. Preciso ir para Buenos Aires urgentemente, porque todo mundo que conheço já foi e se apaixonou por lá. Humpf.
E por que Porto Alegre, hein? Justo quando o São Paulo toma uma cacetada do Inter no Beira-Rio? Só falta você me dizer que foi ao jogo também...
E o pior que o alemão nem era eu.
Quilmes Cristal é legal (apesar de eu odiar frases rimadas)!!!
E... pelotudo, boludo, tudo la misma joça. ;D
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