Buenos Aires (Argentina) - Estava meio bêbado quando comentei com alguém, ainda no Brasil, que a nossa vida não é nada mais do que uma série de marcas de despedidas. E é assim que eu percebo que estou... ahn... 'amadurecendo' a cada dia aqui em Buenos Aires (embora tenha necessitado de uma enorme ajuda da mamãe para poder curtir as minhas férias) em determinados aspectos.
Eu explico: em albergues, é muito fácil de se fazer amizades com outros mochileiros de plantão. Mas, como são mochileiros, eles raramente ficam muito tempo por aqui. Passam uma noite, talvez duas... e então vão embora. É como se eu perdesse um amigo (ou mais) por dia.
Na minha primeira noite aqui em Buenos Aires conversei bastante com o Aaron, o texano que parecia o Snape. Quando todos daqui saímos para jantar naquele sábado, ele rapidamente se levantou e disse que tinha que voltar para o albergue e dormir, porque seu vôo sairia logo cedo no domingo. Foi apenas o prenúncio do que estava por vir.
Na segunda-feira, primeiro, foram os três brasileiros com quem eu tive mais proximidade por aqui, o Rafael, o Geraldo e a Juliana. Segunda de manhã eles estavam mudando de albergue ao mesmo tempo em que eu estava indo ao banco tentar conseguir, de forma vã, um novo cartão do banco. Até comentei com eles: “Não vou falar tchau para vocês porque ainda vamos nos ver por aqui”.
Combinamos de nos encontrar na Calle Florida, mas assim que saí do albergue para ir ao ponto de ônibus, vi os três dentro o táxi e tive a sensação de que era a última vez que os veria. Nosso encontro aqui na capital portenha não virou, e aquele feeling se mostrou ainda mais premonitório.
No mesmo dia encontrei a Katherine, a canadense, na rua. Ela estava com o mochilão nas costas, indo para o Uruguai. Fiz uma piada com ela, perguntei se estava mesmo indo. “Have a nice trip, see ya”, eu disse. Sem nem um abraço, nada. Não sei como as pessoas do Hemisfério Norte reagiriam a uma despedida brasileira.
Quando achei que estava completamente só, conheci o Alem, um negão californiano. Fomos encher o pandu na janta no Des Nível (uma churrascaria bem suja, mas deliciosa), e na manhã seguinte ainda fomos à La Boca, inclusive à Bombonera. Divertidíssimo, mas... ele foi embora logo depois.
Por aqui também conheci a Anne, uma australiana bem bonitinha que estava no meu quarto e que também fora roubada no primeiro dia por aqui. Passamos uma madrugada inteira conversando, mas quando acordei ela estava fazendo as malas para outro albergue. Ela era bem legal, e ficou me devendo os biscoitos mais gostosos da Austrália.
Logo depois de me despedir da Anne, saí para almoçar com a Debbie, a suíça. Na quarta-feira, pegamos o mesmo ônibus pela manha: eu fui ao Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires (o Malba, onde tem o Abapuru) e ela, para o norte da Argentina. Outra despedida.
Um casal de amigos norte-americanos de Minnesota já estava no meu quarto na quarta-feira (haviam chegado na terça). Não tinha ido muito lá com a cara deles quando chegaram e achei que iriam embora no dia seguinte, nem tentei me aproximar.
Até que ontem todos havíamos chegado da rua ao mesmo tempo (eles dois, eu e o Christopher, um alemão que também divide quarto conosco). Subimos para o terraço para conversar sem correr o risco de atrapalhar o sono dos demais hóspedes. Bebemos bastante, viramos a noite conversando e paramos apenas quando o dia clareou. E eles (o Sean e a Alleen - sim, um nome bizarro) disseram que estavam indo embora ainda naquele dia.
Não sinto saudades do Brasil, mas sim daquelas amizades mais duradouras. Nada como dizer “até amanhã”, sem sentir que ‘mais um dia’ também significa ‘um dia a menos’.
Um comentário:
Isso é meio foda mesmo, mas faz parte do pacote das viagens inesquecíveis dessa vida, né?
Aproveita aí, rapaz!
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