Reza a lenda que eu não tinha muito mais do que três anos recém completados quando aprendi a ler. Até hoje não sei como tudo começou, mas meus familiares têm essa história na cabeça.
Alguns meses mais tarde já sabia rabiscar algumas letras em um papel. Tudo isso sem ir para a escola – lugar que eu passei a freqüentar apenas com quatro para cinco anos.
Aprendi a falar, ler e escrever relativamente cedo. Consegui criar uma estrutura mental bacana para hoje, a alguns meses dos 20 anos, ter uma paixão enorme por pensar, criar e... coisas assim – textualmente falando. Consigo me comunicar até que bem com as pessoas, tenho um diálogo interessante com quem me interessa, às vezes tenho idéias que acho muito, muito boas (e que nem sempre são assim de fato, diga-se)...
Enfim. Sinto que tenho uma pequena inteligência dentro de mim, em algum lugar bem obscuro que ainda não foi descoberto. Talvez isso tenha um pouco a ver com o fato de a linguagem estruturar o pensamento. Coisas que Noam Chomsky, Roland Barthes e LM Sá Martino podem explicar melhor.
Só que as coisas mudam um pouquinho se fizermos uma pequena alteração: o idioma. Percebi que se a minha suposta capacidade de pensamento e comunicação me satisfaz bastante em português, em outras línguas não é bem assim. E eu me sinto bastante (e bota bastante nisso) limitado tentando me expressar utilizando algo que não a última flor do Lácio.
Mesmo eu tendo feito inglês durante um tempo até que interessante e conseguido pegar um diploma que, dizem, me permitiria cursar qualquer universidade nos Estados Unidos, Inglaterra ou outro país de língua inglesa, não me comunico como gostaria. De vez em quando, especialmente na rua, tento pensar algumas coisas em inglês. Não é tão difícil, mas também não é tão fácil como em português.
E ultimamente tentei enviar um e-mail para um grande amigo que foi para Londres há alguns dias. Enquanto digitava, constatei algo: meu vocabulário para criar é algo muito mais do que restrito. O que é estranho, porque consigo entender livros, reportagens e textos em geral em inglês, além de filmes... Mas se estava acostumado a ter conversas bastante filosóficas e profundas com esse amigo, notei que em inglês não iríamos muito além do papo esporte-mulher-esporte-mulher-trabalho.
Em espanhol as coisas não são muito diferentes. Senti que tenho mais dificuldades ainda em castelhano do que em inglês quando fui bater um papo com um dirigente da Real Federação Espanhola de Tênis. Conseguimos ter um pouco de conversa. Entendia tudo o que ele me dizia, mas tinha extrema dificuldade para formular frases. E olha que as línguas são parecidas; e eu também não tenho dificuldade alguma em ler e entender textos e conversas em castelhano.
A conclusão disso tudo? Se em português consigo pensar algumas coisas e ter algumas idéias que nem toda a população tem, se vivesse em países como Espanha, Inglaterra, Chile ou Escócia talvez apenas me comunicasse precariamente. Na Holanda e na Bélgica, com meu nível ‘alfabetizando’ em holandês, talvez tivesse a capacidade de apenas sobreviver. Enquanto isso, em países como Alemanha, França, Suécia, Rússia, Japão e China, eu seria tão comunicativo como um arbusto.
Um comentário:
li seu blog e junto dele tanta coisa boa ... não me pergunte o por que, mas lendo ele me senti leve e confortável. talvez por causa das suas aventuras e lembranças.
nem precisei ver um filme hoje, vir aqui foi suficiente.
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