“Olha, filho, fica nos degraus porque você não sabe nadar”.
“Ah, mãe, a água é boazinha! Não tem perigo, olha”.
Alguns passos depois...
“Mãe! MÃE!! Mãe, tô me afogando! Essa água é assassina!”.
...
Se bem me lembro, foi mais ou menos assim a minha primeira experiência com piscinas. Aconteceu em alguma manhã de janeiro há alguns 15 anos, na maior piscina do Círculo Militar.
Apesar da experiência traumática e quase fatal para um garotinho de quatro ou cinco anos, não fiquei com medo da água. Pelo contrário. Fiz aulas de natação, aprendi um nado mambembe e passei a adorar passar as férias de janeiro no clube.
Era uma tradição. Acho que grande parte da minha paixão pelos últimos meses do ano aconteceu por causa da expectativa criada com a ida ao clube (que sempre significou piscina). Até que chegava janeiro, minha mãe tirava férias e eu torcia veementemente para que o sol saísse todas as manhãs para que pudéssemos ir nadar.
Também por conta do clube o cheiro de bronzeador me remete a algumas das melhores lembranças da infância. Muito bom. Misturando isso ao cheiro de cloro da piscina, melhor ainda. E bem peculiar, confesso. Mas cada dia no clube era inesquecível.
Até que os anos passaram. Meus pais se separaram, minha mãe se mudou para um prédio com piscina e decidiu se desfazer do título do clube. “Já tínhamos piscina, ora, não precisávamos mais de clube”, dogmatizei. E, conseqüentemente, meu gosto por piscinas foi diminuindo gradativamente.
Os anos continuaram passando. Eu terminei o colégio, passei na faculdade, comecei a fazer jornalismo, arranjei um estágio na GE.Net, mergulhei de cabeça no mundo dos outros esportes, passei a ter um carinho especial pelo tênis.
Enquanto isso, o esporte com raquetes e bolinhas no Brasil seguiu aos trancos e barrancos e a Confederação Brasileira de Tênis decidiu alavancar a modalidade. Fez uma parceria com a Federação Suíça em junho e, em dezembro, marcou uma entrevista coletiva para anunciar o começo de uma associação com a Real Federação Espanhola e outros países latino-americanos. O local? O Circulo Militar.
Tudo isso junto resultou no meu retorno uns oito anos depois a um dos lugares mais perfeitos da minha infância. Nostalgia era pouco quando eu passei pelo estacionamento na rua. Depois, assim que passei a catraca, fiz questão de desviar meu caminho até a sala da coletiva e fui dar uma volta pelo clube. Ah, eu ainda sabia os caminhos de cor. A revistaria, onde eu comprava o Almanacão de férias da turma da Mônica, ainda estava lá. Ah!
Mas o momento mais, digamos, emocionante, foi voltar a ver as piscinas. Tão azuis como da última vez...e tão vazias como da última vez. As cadeiras para banhistas continuavam dispostas da mesma forma. Talvez fossem as mesmas cadeiras. Assim como as velhinhas nas mesas na porta do restaurante. Parecia até que eram as mesmas.
Mas... alguma coisa estava diferente. As piscinas maiores, que eu sempre achei incrivelmente fundas, não pareciam ser tanto assim. E o lugar onde eu quase me afoguei parecia ser ainda mais raso do que realmente era. Da mesma forma que a plataforma para mergulhos, as escadas para o restaurante das piscinas... estranho.
Andei mais um pouco e entrei no corredor poliesportivo, onde crianças brincavam nas quadras. Dei alguns passos e já estava em outra alameda. Antes o corredor parecia ser maior. As quadras também. Vai ver é a globalização, que vem reduzindo as distâncias do mundo. Só podia ser.
Dei mais uma volta e passei pelo vestiário masculino. Me chamou a atenção a entrada, que não parecia estar tão bem cuidada anos atrás. As percebi que tinha sido reformado. Dentro também: estava mais iluminado, com sessões coloridas de armários... os locais de banho estavam mais limpos... e até o guarda-volumes, que sempre me pareceu sombrio e assustador, estava mais convidativo. As coisas mudam!
Minha opinião também. Ultimamente, costumava dizer por aí que, se um dia ganhasse na loteria ou achasse muitos mil reais na rua, a primeira coisa que faria era comprar um título no Clube Pinheiros, que dispensa qualquer apresentação. O Paulistano também, por ter a melhor feijoada e ser bastante convidativo. Mas o único que me deu vontade de voltar foi o Círculo Militar - dono da medalha de ouro do Campeonato Mundial de Bocha-2006, prêmio que é a menina dos olhos da sala de troféus do clube.
Apesar de tudo, porém, o Círculo Militar havia perdido um detalhe. A porta giratória, que sempre me amedrontou na entrada (o medo de ser barrado na porta do clube era enorme naquela época), parecia não estar lá. “Ih, mas faz tempo que tiraram. Nem lembrava mais”, me disse um porteiro quando perguntei.
Uma pena. Eu lembrava.
2 comentários:
Campeonato Mundial de bocha? Eu achei que só se jogasse isso no Brasil! Pior; no interior de SP!
Mas me lembrou minha infância passada na Prudent... Digo, na APEA! Ah, a sala de troféu, as quadras, as piscinas, o salão de jogos...
Oi Held!
Muitas lembranças da minha infância tb estão no Círculo Militar.
Saudade desse tempo.
A gente deve ter se cruzado lá qdo pequenos...
Bjos.
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