O discurso não é novo: a arte de escrever, embora seja considerado por muitos uma arte, não paga contas. Ou pelo menos não a da maioria dos escritores.
Os motivos são bem simples, e o principal deles é que o Brasil não possui uma cultura de leitura de livros. Ainda mais em um mundo como o de hoje em dia, em que há televisão a cabo com 150 canais, Internet com muito mais do que 1.001 utilidades.
Por conta disso também se cai no princípio básico da economia (e o único que eu sei): quanto maior a demanda, maior é a oferta e menor é o preço. Mas se a demanda for pequena, a oferta também o será. E o preço... ah, o preço vai aumentar. E a demanda vai continuar baixa.
Da última vez em que me informei sobre o preço para o lançamento de um livro (e isso foi em 2003, por aí), era algo em torno de R$ 10 mil o milhar de exemplares, se não me engano, em uma editora chinfrim. Tenho medo de pensar o valor hoje em dia...
Mas recentemente tive mais uma prova de que o crime, digo, a escrita não compensa. Em uma rápida passagem pela Fnac, encontrei em uma pilha meio jogada um dos livros com o qual eu flertava há algum tempo: Don Quijote de la Mancha, edição comemorativa do IV Centenário da Academia Espanhola, capa dura, 1.235 páginas de história e mais 101 de prefácios. Ao que tudo indica, importada.
Um extraterrestre talvez imaginasse a fortuna que R$ 28 representariam se passasse o código de barras do livro de Cervantes no leitor ótico. Eu, que ‘ganho’ aproximadamente esse valor por dia, achei exatamente o contrário. E não pude deixar essa chance passar.
Na fila do caixa, porém, me deparei com uma outra obra – talvez um marco da literatura mundial. História para pais, filhos e netos, do Paulo Coelho. Capa mole, 304 páginas. Tudo isso pela bagatela de R$ 42. Isso mesmo: apenas 14 pratas a mais em relação ao Dom Quixote.
Fiz algumas contas rápidas. O livro do Cervantes me custaria 28 reais por 1.336 páginas. Depois da sessão ‘Regra de três, pra que te quero?’, a relação desejada: R$ 0,02/página. Dois centavos por página! O do PC, pouco menos dos que R$ 0,14/página. Sete vezes a mais do que o Dom Quixote.
Não digo que a solução deveria ser aumentar o preço da história do famoso fidalgo para, sei lá, R$ 590; mas sim baixar o valor dos demais. Até porque... nada contra o Paulo Coelho, mas é um exagero qualquer livro dele ser, em números relativos, sete vezes mais caro do que um marco da literatura mundial.
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