De uns anos para cá, nutri um sentimento não muito agradável em relação ao centro da cidade – tanto que não ia para lá há um ano por livre e espontânea vontade. Que belo paulistano, não?
Mas eu tinha que ir ao centro ainda esta semana para fazer um documento não muito importante no Fórum João Mendes Jr. Só que, com tanto temor do centro, saí de casa sem mochila, ipod, celular e ou carteira. Tinha apenas um envelope com os documentos necessários, 12 mangos no bolso e mais 50 em uma das meias. Prevenção, oras!
Saí do metrô na Praça da Sé, virei à esquerda, depois à primeira direita, caí na Onze de Agosto, atravessei uma avenida movimentada e entrei no fórum. Embora já soubesse que deveria ir na sala 224, perguntei para a moça de colete vermelho. Ela nem chegou a me falar.
“De bermuda não pode entrar, desculpa. De bermuda você só pode ir na Nossa Caixa, na Rua 15 de Novembro, porque lá também dá para tirar esse documento. Para chegar lá você sabe, né? É só voltar para a praça, atravessar e logo você encontra o banco”.
Mesmo depois de atravessar a Praça da Sé novamente, percebi que não sabia encontrar a agência matriz e precisava pedir informações. Só que também sabia que pedir informações no meio da Praça era um risco, um chamariz para trombadinhas (na mesma hora me lembrei de uma amiga de uma cidade interiorana que veio fazer vestibular na capital recentemente e me contou que, enquanto não voltava para a sua terra, tinha a constante sensação de que seria assaltada).
Acabei parando em um bar na frente do Pátio do Colégio (lugar que eu conhecia vagamente) e pedi a tal informação. O caminho que o cara engravatado comendo um torresmo me indicou era simples: atravesse a rua, vire na primeira direita e desça. Fiz tudo como sugerido e não tive problemas para encontrar o banco. Sem fila, precisei de apenas alguns minutos para requisitar o documento e voltar para casa.
Poderia ter saído do banco e voltado diretamente para casa dentro do prazo estipulado anteriormente. Mas, ao sair da 15 de Novembro, percebi que estava diante de uma rua ligeiramente tortuosa, cheia de prédios e pessoas. Aquela que me chamou a atenção há uns 14 anos. De mãos dadas com o meu pai, perguntei qual era o nome dela. “É a Rua Direita. Direita, mas você pode ver que é torta!”, explicara.
E lá estava eu: diante da Rua Direita, onde começavam todos os memoráveis passeios com meu pai pelo centro da cidade, entre meus cinco e 12 anos. Tudo estava mais ou menos da mesma forma: o McDonald’s, as ruas, as pessoas, as mercadorias no chão... Não tinha como não reviver tudo aquilo de novo.
Segui caminho pela Rua Direita, porém torta, apenas para ver onde ela ia dar. Mas, enquanto passava pelas travessas, notava que estava diante de ruas cujos nomes estavam encravados na minha memória: Álvares Penteado, Quintino Bocaiúva, José Bonifácio!
Assim que passei pela José Bonifácio, vi à minha frente um prédio bastante familiar, mas cujo nome eu também não lembrava. Então passei pela Praça do Patriarca e emboquei em uma rua mais familiar ainda: a Rua São Bento. Pela lógica de que “deve passar no metrô São Bento”, decidi segui-la.
Percebi que estava no Largo São Bento e do lado do Prédio dos Correios – lugar não muito estranho para mim, já que costumava passar por lá para ir à Galeria do Rock em meus tempos áureos de Rock n’ Roll. Atravessei o Anhangabaú, subi a São João e passei em frente ao Rei do Mate, que servia o melhor mate com leite da cidade três anos atrás. Costumava ir lá com um velho, velho amigo.
Desta vez não parei para tomar o mate com leite. Atravessei a Líbero Badaró, virei à direita e voltei à Rua São Bento. Passei de novo pela Praça do Patriarca e retornei à Rua Direita, para a parte derradeira do meu passeio nostálgico. Derradeira mesmo: já eram 11h30 e eu deveria voltar para casa.
Antes de deixar a Rua Direita, vi um molequinho de no máximo quatro anos tentando acompanhar o ritmo das passadas largas do pai, que lhe segurava a mão. O adulto, porém, parou em frente a um prédio, pegou o filho no colo e apontou. “Sabe, filho, esse foi o primeiro prédio que construíram em São Paulo e no Brasil”. A mãe, que acompanhava o passeio entre pai e filho, ralhou: “Ele é muito novo! Você acha que ele vai lembrar disso?”.
Se aquele molequinho vai se lembrar disso no futuro eu não sei. Eu, mesmo tendo pegado a conversa sem querer, sabia que o prédio em questão era o Edifício Guinle. Meu pai me contou isso uma vez, quando eu devia ter por volta de quatro, cinco anos.
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