domingo, 2 de dezembro de 2007

Espera

Fui um garoto tímido desde os primórdios. Nas minhas primeiras lembranças sociais, apareço me escondendo da vizinha do apartamento ao lado ou então me vem à mente a vergonha de sair do meu universo primitivo (carro da minha mãe) e entrar na escolinha para o primeiro dia de aula.

Essa minha timidez diminuiu em bons números com as minhas primeiras amizades. Mesmo assim, nas festinhas de aniversário nos buffets infantis, ela voltava a ficar evidente: se chegava um pouco tarde e um grupinho já estava com uma conversa consolidada, tinha uma enorme dificuldade para me enturmar. A solução? Chegar mais cedo e participar da formação dos grupinhos. Muito mais fácil.

Por causa disso, acabei desenvolvendo o hábito de ser pontual. E essa minha pontualidade, em vez de ser vista como uma qualidade, acaba apenas evidenciando meus principais defeitos sociais, dentre eles a tal timidez, a gigantesca insegurança e uma certa ansiedade – coisas que poucas pessoas acreditam que eu tenha.

Quando combino alguma coisa com alguém, sempre acabo chegando uns cinco minutos antes. Sempre bom estar lá antes, eu acho. O problema é que quase ninguém pensa assim, e muitas vezes as pessoas acabam chegando muito além do estipulado. Muito mesmo.

Uma das piores coisas para uma pessoa tímida e insegura é ficar plantada em um mesmo lugar por muito tempo. Às vezes tento disfarçar, dou voltas no quarteirão e até finjo chegar atrasado. Mas nem sempre isso dá certo, e acabo ficando parado no mesmo lugar.

Os dez primeiros minutos da espera são normais e até passam bem rápido. Depois da primeira olhada no relógio e de constatado o princípio de atraso, porém, a insegurança começa a bater. Por que o atraso? Será que a pessoa desistiu? Ou... pode ser o trânsito. Eh, pode ser o trânsito. Mas e se aconteceu alguma coisa? Puxa, já faz 20 minutos que a gente combinou, por que não avisou?

Nesse momento, tento a minha cartada mais vã possível: o celular. Mas, como todo mundo já deve saber, o celular só costuma funcionar quando você está no meio de uma prova, de uma entrevista de emprego, em uma reunião, no trabalho ou no elevador. Quando mais se precisa dele, resta apenas a caixa postal.

Depois de ficar tanto tempo no mesmo lugar com as mãos nos bolsos, percebo que os dedos começam a suar. Tiro as mãos do bolso, estralo os dedos, esfrego-os. Ter barba nessa hora ajuda, e acabo sempre puxando alguns fios do queixo. Também penso em uma música e começo a marcar o ritmo com os pés. Incessantemente.

Enquanto isso, as pessoas em volta começam a perceber que você está esperando alguém. Muitas delas sabem isso, e boa parte delas começa a desconfiar de que você levou um bolo. Começo a olhar para os lados, esperando ver a qualquer momento a pessoa com quem combinei. Meus bolsos começam a pesar. As pernas, a tremer. É preciso arranjar alguma coisa para fazer.

Depois de alguns instantes, a salvação: a pessoa esperada chega, ou então a primeira do grupo combinado. As mãos param de suar, as pernas param de tremer e a vida, pouco a pouco, vai se reajustando.

Quase ninguém acredita quando eu digo que sou tímido e inseguro. “Você, que consegue se aproximar de alguém com tanta facilidade e fazendo tantas piadas? Ah, conta outra, vai!”.

É que nenhuma delas me espiou enquanto eu esperava por alguém.

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