O Natal, como todo mundo já está mais do que cansado de saber, se mantém vivo até hoje pela tradição – tradição esta, aliás, que a cada ano é menos visível nas ruas das grandes cidades. No entanto, são alguns pequenos que o mantêm vivo até hoje.
O primeiro, é claro, são os presentes. Não faz muito sentido as pessoas trocarem lembranças apenas porque é o dia em que Jesus nasceu, de acordo com a educação que todos nós tivemos. Em todo caso, não tem quem não espere ansiosamente por abrir um embrulho no dia 24 de dezembro, antes da meia-noite. E receber um embrulho, abrir o pacote e se deparar com o presente é uma sensação tão boa que nunca vai se extinguir no ser humano – muito embora seja amenizado com o passar do tempo.
Outra coisa bem costumeira na época natalina é a meia-noite. É mais do que de praxe as pessoas (todas!) manterem um olho no especial de Natal da Globo e outro no relógio, esperando a virada para a meia-noite. Então os ponteiros se aproximam do 12 e, quando enfim se unem, todo se abraçam, trocam palavras ensaiadas porém positivas. Algumas vezes reais, até (muito embora grande parte das pessoas só se veja apenas em 25 de dezembro e, muito mais embora ainda, todos esses desejos valham apenas por 24 horas – a duração do Natal propriamente dito).
E, como não poderia deixar de ser, após o Natal há a ceia. Fartura. Aves, porcos, peixes, farofas, saladas, grãos, sementes, frutas lustradas e mais frutas que não parecem frutas, mas uma casca dentro da outra. Coca-cola! Silêncio durante a refeição. Raspar de talheres, segundo prato, silêncio, raspar de talheres... terceiro prato (há quem consiga). Raspar de talheres e barrigas estufadas. Pavês, pudins, bolos. Pandu cheio – agora de verdade. Sono.
Então chega o dia 25 propriamente dito às 11 horas da manhã, quando o mundo acorda de ressaca depois da ceia. Mas depois de alguns instantes, todos já estão preparados para mais uma aventura glutona. Aves, porcos, peixes, farofas, saladas, grãos... tudo de novo.
A noite do dia 25 de dezembro chega com a mesma intensidade que uma noite de domingo. Às vezes fica até a expectativa de ver a Glória Maria na telinha e a música do Fantástico. O fato de elas não aparecerem torna a noite pior do que a de domingo. O dia de Natal é um domingo fajuto.
Alguns povos até tentam amenizar essa sensação de fim de feira na data natalina. Uma das maneiras mais criativas é tradicionalíssima em países de origem anglo-saxônica (como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia): o Boxing Day. No dia 26 de dezembro, é costume os patrões darem a seus empregados alguns presentes, as lojas organizarem liquidações irresistíveis e, além disso, muitos eventos esportivos acontecerem.
Na Inglaterra há a sempre interessante rodada do Boxing Day na Premier League. Por fazer parte da tradição o duelo entre rivais locais, Londres costuma ser palco de vários dérbis. Este ano, Tottenham (norte da cidade) e Fulham (centro-oeste) se enfrentaram no White Hart Lane (estádio do Tottenham): massacre dos anfitriões por 5 a 1.
Os sul-africanos fazem diferente – e, em certos casos, de uma forma até que mais divertida. As famílias colocam toda a sobra das ceias em uma caixa (caixa, box, caixa...) e vão para a praia. Rola, então, um piquenique coletivo com todos os farofeiros. Não é divertido? É um bom jeito de fazer amizades, conseguir algumas paqueras... ou apenas encher o bucho com várias comidas diferentes.
Tem países que não são tão criativos como os anglo-saxônicos, e eles simplesmente criaram um segundo dia de Natal. É, isso mesmo, um Natal duplo – que acontece sobretudo em países de origem germânica e nórdica ou colonizados por esses povos ao longo da história: Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Lituânia, Noruega, Polônia, Suécia e Suriname.
Deve ser comilança e bebedeira em dobro, ressaca ao quadrado e clima de domingo ao cubo.
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