Não foram muitas mulheres que nos últimos 19 anos receberam flores enviadas por mim. Tudo isso por uma série de motivos que não vem ao caso agora. Nas poucas vezes que enviei, porém, a mesma história se repetiu. As únicas coisas que eram invariavelmente diferentes eram a floricultura e o funcionário. Sempre.
O resto nunca muda. Passo dias procurando alguma floricultura perto dos lugares que eu costumo freqüentar. Alguma das minhas duas casas, colégio, faculdade, trabalho... casa de quem receberá as flores. É uma escolha complicada, feita apenas na última hora.
Antes de definir a floricultura, aliás, tenho inúmeros pensamentos de deixar tudo isso de lado e trocar as flores por um ingresso de cinema. É muito mais fácil. Já cheguei também a consultar floriculturas online e colocar algumas flores na cesta. Claro que sempre mudo de idéia antes de fazer tal bobagem.
Mas depois que escolho a loja cujas flores presentearão amiga, paquera ou mãe, me dirijo ao local. Entro na loja, começo a observar alguns arranjos ou vasos na vã tentativa de mostrar que sei exatamente o que vou pedir. Até que me atendem e a minha farsa é revelada. “Posso ajudar?”, o vendedor (ou vendedora) pergunta. E eu já deixo claro que praticamente nem sei o que estava fazendo e que queria apenas tal arranjo de flores.
O funcionário da floricultura às vezes pergunta para quem são as flores e, após ouvir a minha resposta, recomenda alguns cartões. E pede para que eu escreva a dedicatória enquanto ele (ou ela) faz a anotação burocrática do meu pedido.
Os cartões de floriculturas são extremamente cruéis para mim, uma pessoa que tem sérios problemas em passar uma mensagem em poucas palavras (vide o tamanho dos posts deste blog). Passo alguns minutos olhando profundamente o cartãozinho, a caneta (que é intimadora, pois significa que um erro é fatal) e o meu rosto no espelho até que uma idéia vem à mente. Escrevo-a rapidamente, fecho o envelope e entrego para o florista.
Pago a encomenda e saio da loja imaginando a cara de surpresa que a destinatária fará. Será que ela vai gostar? O que vai achar? E... e a família dela, será que vai pensar. Aliás, será que ela vai receber? E a mensagem que eu escrevi? Tudo isso, é claro, apenas evidencia a insegurança deste que vos escreve.
Minha paranóia textual acaba tomando conta do caso. Lembro que coloquei uma vírgula aqui ou acolá na curta mensagem. “Se ela perceber isso, pode entender tudo diferente. Pode até se zangar. Putz, e aquele verbo? Era no presente ou no pretérito perfeito do subjuntivo ? Os sentidos também podem ficar diferentes. Putz, que merda que eu fiz!”. E fico com isso na cabeça durante algumas horas.
Até que as flores são enviadas e a destinatária em questão (ou alguém muito próximo a ela e a mim) me notifica. “Adorei as flores! E o cartão, nossa, que cartão! Obrigada!”. E respiro aliviado. “Ela não percebeu aquela vírgula e nem o tempo do subjuntivo. Que sorte!”.
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