Nada contra as manifestações de arquibancada: até acho algumas muito, muito boas (de outras torcidas, já que a do Palmeiras é uma das coisas mais bizarras do mundo dada a rivalidade imbecil entre uma facção e outra). Só acho que o meu grito não vai ser o fator-chave para o jogador acertar um lançamento, o time fazer um gol... esas coisas. A não ser quando tomo uma cerveja ou outra antes de entrar no estádio.
Para falar a verdade, nunca achei que poderia mudar o rumo de um time de futebol. Até uma manhã de sábado, em um dia que, assim como todos os outros do mês de dezembro, as notícias esportivas praticamente não existem.
Sozinho na redação, tinha à minha frente apenas um copo de café e uma pauta: NBA, Superliga (masculina e feminina), Campeonato Inglês e outros esportes. Antes de começar com a Liga Norte-americana de Basquete, porém, dou uma geral nos concorrentes. Em um deles, uma bomba: o Corinthians estava perto de contratar um atacante. Uau!
Deixei de lado o massacre do Boston Celtics e tentei ligar para alguns empresários envolvidos na negociação. Consigo falar com o primeiro logo de cara. Um cara bem educado para os meios futebolísticos, diga-se. Após confirmar o negócio entre Timão e jogador argentino, uma pergunta. "Você tem o telefone de algum diretor do Palmeiras?". Respondi que sim e perguntei de qual ele queria. "O que manda mais". Pensei alguns átimos de segundo. "Pode ser do Cipullo?". "Pode, pode sim".
Eu nem precisei perguntar por que o empresário queria o telefone: ele mesmo já me explicou. "É que eu vou oferecer agora um jogador pra eles". Hummm... quem?. "É o lateral-direito fulano de tal. Mas ó, não fala nada ainda que senão pode melar o negócio. Eu te ligo daqui a pouco e te falo o que rolou, combinado?". Combinado.
Ao desligar o telefone, no entanto, alguns pensamentos passam pela minha cabeça. Eu poderia noticiar que o lateral-direito fulano de tal seria oferecido ao Palmeiras. Seria o primeiro jornalista do Brasil a cravar a notícia. Os outros sites repercutiriam o caso, assim como os jornais, os programas de rádio e de televisão...
Isso faria com que o nome de Palmeiras e do tal jogador ficassem em evidência na mídia. "Por obrigação" o clube poderia contratar o atleta e eu ser um dos principais responsáveis pelo acerto. Com a camisa 2, ele poderia se tornar um dos melhores jogadores da história da equipe, conquistar títulos e mais títulos. Ganharia um ou dois bustos no Parque Antártica. E, em reconhecimento pela influência na oferta, eu poderia até conseguir uns trocados de bonificação.
Ou então... com o nome em destaque e cotado para acertar com o Palmeiras, o jogador passaria a ser assediado por outras equipes. Concorrência aberta. Cifras cada vez maiores. Um acerto milhonário. Em reconhecimento, o empresário poderia até me dar, sei lá, 1% do valor do negócio como um "muito obrigado". Certamente seria muito mais do que os meus rendimentos de um decênio somados.
Mas por outro lado... uma notícia prematura poderia melar todo o negócio com o Palmeiras. E com várias outras equipes. O jogador perderia o espaço no cenário nacional e internacional, voltaria para sua terra de origem e não teria um contrato legal. Sua família passaria por necessidades... coisas assim. Ou então o empresário poderia me culpar por ter atrapalhado a negociação e... talvez até me processasse. Pediria uma indenização milhonária, que mesmo se eu trabalhasse intensamente durante um decênio seria sanada.
O que eu fiz? Parei de pensar e fiz a notícia do tal jogo do Boston Celtics. Melhor assim: não sou bom em negócios. Além disso, parece que o Palmeiras não se interessou muito pelo tal jogador e o negócio não saiu. Melhor ainda: ele nem era tão bom assim.
Um comentário:
Era o Granja, fala a verdade. Era o Granja.
Pô, na draga de lateral que o Palmeiras está, caía como uma luva.
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