sábado, 3 de novembro de 2007

Sapientíssima

É uma coisa lógica: quanto mais o tempo passa, mais eu envelheço (e não é nem preciso ser gênio para se chegar a tal conclusão). Quanto mais eu envelheço, mais fico confiante comigo mesmo e com algumas das minhas teorias furadas sobre o mundo. Resumindo: quanto mais o tempo passa, mais eu acho que estou por dentro das coisas.

Há dias em que a confiança é tanta que eu até resolvo desafiar a natureza. Muito embora minha mãe diga para eu levar o guarda-chuva para o trabalho porque vai chover, olho para o céu e não vejo uma nuvem sequer. Mas basta eu sair de casa para um vento noroeste mudar o aspecto do céu, trazer algumas nuvens e, conseqüentemente, água.

Outra prova de que mães sabem das coisas aconteceu comigo alguns meses atrás. Acordei um sábado de manhã com um desconforto na garganta, que parecia ter sido arranhada. Fui me queixar para minha mãe, que se limitou a dizer “ih, você vai ficar resfriado”.

Bom, eu já fiquei resfriado algumas vezes e quase nunca senti dor de garganta. Certo de que não estava resfriado e sim com algum problema na garganta, fui para o trabalho e voltei para casa à noite com febre. Era a prova que eu precisava para mostrar que não estava resfriado: eu, além de quase nunca ter dor de garganta quando me resfrio, raramente tenho febres. Ou seja, era alguma outra coisa. Talvez fosse preciso até tirar as amídalas. Resfriado? Humpf... conta outra!

Com febre, dormi. Acordei no dia seguinte sem febre ou dor de garganta, mas com o nariz mais entupido do que o normal e a moleza característica de alguém resfriado. E, evidentemente, fui obrigado a reconhecer a superioridade da minha mãe nas minhas primeiras palavras daquela manhã: “É, mãe, você acertou. Eu tava resfriado mesmo”.

Só que... tem alguém que pode ser mais sábia do que as mães? Pensando bem, sim. Quem? As mães das mães.

E tenho um motivo para dizer isso. Quando era muito pequeno, uma vez ouvi minha avó comentar com a minha mãe em um fatídico 2 de novembro (não sei agora se em 95 ou 96), em que o sol brilhava no céu e a chuva era algo, no mínimo, impossível de acontecer: “Acho que hoje ainda vai chover. É... sempre chove em Dia de Finados. Desde que eu sou pequena, não me lembro de um Dia de Finados sem chuva”. Isso por volta das 14 horas. Às 16h30 caiu o maior pé d’água. E eu não conseguia acreditar.

Ano após ano, a chuva se tornou algo tão tradicional nos dias 2 de novembro que eu praticamente não liguei mais para o fenômeno natural no tal dia. Até ontem.

Saí do trabalho na hora do almoço e fiquei vagando pelos arredores da Paulista durante a tarde toda, passando por cinemas, livrarias, praças e afins. O sol a pino, a falta de vento e o céu incrivelmente claro até as 19h30 mostravam que a teoria da minha avó seria infelizmente quebrada. E não era tão impossível de isso acontecer: com esse aquecimento global...

Mas não. Entre um chope e outro com Mané e Pedro (a Carol já tinha ido embora), um clarão enorme cruzou o céu da Joaquim Eugênio e, frações de segundos depois, um mundo de água assolou a região da principal avenida paulistana.

Enquanto todos do bar se surpreendiam com a chuva inesperada, eu apenas constatava uma certeza: ainda que aos 40 minutos do segundo tempo, a sabedoria da minha avó venceu o efeito estufa, o degelo dos icebergs, o desmatamento das florestas tropicais... Mais uma vez.

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