Quando eu atingi o ápice do meu cansaço mental com estresse combinado na noite de quarta-feira, fiquei tranqüilo ao pensar que já eram 21 horas e que, dentro em breve, seria um novo dia e as coisas tenderiam a melhorar.
Só que quando eu atingi o ápice do meu cansaço mental com estresse combinado na noite de quarta-feira, não sabia que iria acordar atrasado na quinta-feira. E que o dia promissor, bom... não seria tão bom assim.
Tudo começou quando a quarta-feira terminou. Eram 3h30 quando eu me deitei e, ao colocar a cabeça no travesseiro, me dei conta de que teria apenas 2h30 de sono até o despertador tocar. “Puts, e será que eu agüento?”, pensei. “Claro que sim. Fiz isso nos últimos 11 dias, não seria agora que daria errado”, respondi, antes de cair no sono.
O despertador soou pela primeira vez às 6h07. Ainda cambaleando, levantei, apertei o snooze e me recoloquei sob os cobertores para mais nove minutos de sono. Só que, quando abri os olhos novamente, estava mais descansado. Levantei a cabeça, olhei no visor eletrônico do rádio-relógio e vi que o aparelho marcava 49 minutos. “Puuta merda, me atrasei. Mas tudo bem, 6h49 ainda dá tempo de fazer a barba, tomar banho, pentear o cabelo, escovar os dentes e chegar antes das 8 horas na redação”, calculei.
Antes de levantar da cama, porém, ouvi o locutor da Jovem Pan anunciar a hora exata. “Agora são 7h49”. “Repita”. “Sete e quarenta e nove”. Sete e quarenta e nove? Puuuta que pariu, que merda!
Risquei da lista de afazeres a barba, o banho, o cabelo, os dentes... apenas abri o armário, peguei as primeiras calça e blusa que vieram à mão e vesti. Passando pelo espelho da sala, vi um cara com uma barba de duas semanas ao longo do rosto, barba de três dias do pescoço, ao cabelo despenteado. Tudo isso combinado à roupa escolhida a esmo, a única coisa que consegui dizer foi “Puta que pariu, que cara de louco!”. Mas não havia tempo para muita coisa.
Foi descendo as escadas do prédio que me lembrei de que havia esquecido de colocar um livro na mochila. No entanto, logo em seguida veio à cabeça que era dia da coluna do Veríssimo no Estado e... bom, se não tem livro, vou lendo o jornal mesmo no metrô.
Parei na guarita do condomínio e falei automaticamente a frase de sempre. “Opa, bom dia. O Estado do 1013”. O porteiro, depois de um minuto de busca, respondeu: “Olha, a assinatura do 1013 foi cancelada”. “Como assim? Não tem nem uma semana que eu comecei a assinar”, expliquei, elevando o tom da voz automaticamente. “Tá aqui, ó. Cancelada”, respondeu, mostrando um papel.
Atrasado, não tive tempo de discutir. Agradeci, abri a porta da rua e veio à minha cabeça mandar um “Vaitomarnocufilhadapuuuuta” ao periódico que, do nada, havia cancelado a minha assinatura. Ao ver que as pessoas em volta olhavam para mim com cara feia, percebi que não tinha apenas pensado, mas também gritado.
Bom... chovia e eu estava atrasado. Não tardou muito para eu perceber que eu deveria começar a correr. Antes de pensar se eu deveria ou não iniciar a disparada, já estava correndo velozmente em direção ao metrô. Ao mesmo tempo, percebi que, se a barreira entre consciente e incosciente é desfeita durante o sono, quando se perde a hora demora um pouco mais para que tudo seja reestabelecido.
Besteiras à parte, acabou que eu bati o cartão às 8h38. Nada mal para quem tinha transformado um atraso de 1h42 em apenas 38 minutos. A primeira coisa que eu fiz ao chegar à redação foi ligar para a central do assinante do Estado. Depois de muito monólogo do atendimento automático, fui transferido a uma atendente com voz de verdade.
“Olha, senhor... consta aqui que a assinatura foi cancelada porque o nosso controle de qualidade ligou para a sua casa ontem e ninguém atendeu. Por motivo de segurança, decidimos cancelar a assinatura”.
Não adiantou eu dizer que não estava em casa porque estava trabalhando justamente para pagar a assinatura. No entanto, ela pediu meu CPF para reativar a entrega. Percebi que meu dia não seria dos melhores quando esqueci o número do meu CPF e só fui lembrar depois de algumas dezenas de segundos. E, quando ela pediu o número do meu celular, tive que pensar durante uns cinco segundos para responder.
A atendente, que não se desculpou pela falha da empresa, prometeu que o jornal seria entregue dentro de três horas, no máximo, na portaria do prédio da Gazeta. Não preciso dizer que, quando saí do prédio às 14 horas, não havia periódico algum. E o atendimento ao cliente já havia encerrado o expediente. Maravilha.
A tônica do meu dia não foi muito melhor fora do trabalho, para falar a verdade. Mas... agora há pouco, lembrei que hoje é 15 de novembro. E também lembrei que, desde pequeno, os feriados de 15 de novembro são os piores do ano para mim. Algo tão inerente como a chuva no Dia de Finados.
Quer saber? A vida é estranhamente sensata...
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