Filas de banco no quinto dia útil do mês são um excelente convite àquelas pessoas que vivem em um mundo paralelo onde a meta do dia é passar horas para pagar uma conta. Para os outros 6,8 bilhões de habitantes da Terra, é mais um motivo de stress.
Por exemplo: a velhinha que se demora no mesmo caixa por mais de dez minutos. E, assim que as oito operações são concluídas, passa quase o dobro do tempo pedindo informações para a atendente. O cara que quiser obter legitimidade precisa apenas reclamar com o cara da frente da fila reclamando e ensaiando um “Vai cozinhar, vovó!”.
Só que o mais importante vem a seguir. Quando quatro ou cinco pessoas começam a conversar e reclamar do atendimento, o cara entra na conversa e toma a palavra. “O país não tem jeito mesmo. Sabe o que tem que fazer pra que tudo isso seja mais rápido? Tem é que botar fogo na agência!”. Os interlocutores se assustam, mas o catastrófico se explica. Era o que faltava para ser eleito o líder da tribo.
“O ano é 1986”, inicia o cara de 50 anos, passando as mãos no cabelo acaju e desabotoando mais um botão da camisa. “Nessa época eu estava em Paris. Oui, oui. O governo francês decidiu aumentar em 17 centavos de franco (naquela época não existia o euro ainda) do bandeijão dos universitários. O almoço não custava muito, mas iam aumentar em 17 centavos de franco pela primeira vez na história. Os estudantes puseram fogo no restaurante. O preço aumentou?”, terminou, olhando em volta e, pomposo, fazendo sinais negativos com a mão.
Enquanto isso, as outras pessoas da fila olham para o sujeito e parecem refletir a situação. É hora de dar mais um exemplo. “Em Lisboa foi assim. Eu estava lá quando isso aconteceu também. Foi em 1990, quando o governo português decidiu aumentar a passagem de ônibus depois de sete anos sem reajuste. Sabe o que a população fez? Incendiou oito ônibus. E o preço aumentou? Negativo”, prosseguiu.
Foi o bastante para que todos concordassem com o ponto de vista do companheiro de fila. Então chegava o momento de consolidar a tese recém formulada. “É por isso que eu digo que o Brasil não vai pra frente enquanto a população não se unir e incendiar o congresso. Se isso não acontecer, a gente nunca vai ver evolução alguma. E os senadores vão continuar sendo absolvidos”, emendou. Nesse momento, a caixa chamou o próximo da fila. O líder da tribo sacou o bolo de notas de R$ 1.000 em notas de R$ 50, deu uma contada rápida e se dirigiu para o atendimento.
Depois de efetuar os pagamentos, despediu-se da fila. Deu tapinhas nos ombros de uns cinco. Outros disseram “a gente se vê, amigão!”. Juro que ouvi alguns aplausos também.
São poucas as pessoas que são legitimadas em uma fila de banco em uma manhã de segunda-feira.
Atualizado (12/09): E não é que o cara tava certo mesmo quando disse dos senadores?
Um comentário:
Comentário pertinente para esse 12 de setembro.
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