Poderia ser um dia normal. Coloquei o rádio relógio para despertar às 8 horas, travei uma briga com o aparelho eletrônico e só consegui de fato acordar às 9. Rodei a televisão de um lado para o outro entre os canais por assinatura na tentativa de ver o jogo da seleção feminina de futebol. Não achei, e depois que a partida terminou descobri que a Bandeirantes tinha transmitido a Copa do Mundo inteira. Justamente o canal que eu pulei. Sempre faço isso.
Saí para trabalhar no mesmo horário, ouvindo os mesmos sons de sempre no fone de ouvido. Peguei o metrô no mesmo lado da plataforma, sentei no mesmo vagão e no mesmo banco lateral. Fiz baldeação, desci na estação que me cabia e fui almoçar no mesmo self service de sempre.
Mas foi quando fui à videolocadora que tudo mudou. Enquanto olhava a capa de um dvd na mesma sessão em que procuro um filme todas as vezes, uma palavra simplesmente brotou na minha cabeça. Uma expressão nem um pouco comum, que talvez eu nunca tivesse falado anteriormente e sabe-se lá por que havia aparecido no meu pensamento. Mas fiquei com vontade de dizê-la.
Saí da locadora, olhei o relógio e vi que poderia matar um pouco de tempo. Sentei no mesmo lugar de sempre, reabri o livro e li mais algumas dezenas de páginas. Até que bateu o horário em que eu deveria bater o cartão e começar a trabalhar.
Tentei encaixar a tal palavra em todas as 19 notícias que coloquei no ar ao longo de um expediente preguiçoso de alguém que prefere o período matutino. Não consegui. Não era tão fácil de colocar uma expressão incomum como aquela em um relato do Campeonato Espanhol, por exemplo. E isso me deixou com mais vontade de pronunciar o termo talvez pela primeira vez na vida.
Desci para a faculdade, conversei com algumas pessoas. Muitas conversas, muitos assuntos, poucas aulas (a maravilha do fim de bimestre). Só que não deu para falar o vocábulo quiçá maldito. Normal. Se falasse aquilo, todos me olhariam feio e talvez pensariam que estava sob alucinógenos, psicotrópicos ou até mesmo cafeína.
Cheguei em casa, jantei, liguei a televisão e deitei na cama, como sempre. E então percebi que não havia conseguido encaixar o termo em nada do meu cotidiano.
Não é a primeira vez que isso acontece. E com certeza não será a última.
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