Algum dia do mês retrasado, em um restaurante por quilo da Avenida Paulista.
Fila do caixa, 15h30.
– Deu R$17,30, moça – disse a caixa.
– Hum? – interrogou a cliente, uma loira de 1,80m, olhos verdes e talvez uns 25 anos.
– R$ 17,30 – respondeu a funcionária.
– I’m sorry, but I can't understand you. I don’t speak Portuguese – justificou-se a loira.
O gerente é chamado.
– Essa moça disse um negócio estranho. Acho que ela é estrangeira – apontou a caixa.
– Boa tarde? – cumprimentou o gerente.
– I am from Germany. I don’t speak Portuguese – explicou.
– Ela disse que é da Alemanha e não fala português, Rosa –traduziu o gerente, direcionando-se à caixa.
– Nossa, que chique! Fala pra ela que deu R$ 17,30, Gerson –exclamou Rosa.
– The bill is seventeen reais and thirty cents. You are a tourist? – perguntou Gerson, que não lembrou das regras gramaticais do Inglês.
– Yeah, yeah. I’m here with my sister. She, Nadja – disse a alemã, apontando para a uma garota morena, de pele clara, olhos azuis e talvez uns 21 anos, que vinha em terceiro lugar na fila.
– And you are liking São Paulo?– prosseguiu o gerente.
– Yeah, very much. This is a fantastic city! Really nice! – elogiou a loirona, tirando uma nota de R$ 50 da carteira e entregando à caixa.
– Gerson, fala pra ela que ela é muito simpática e que eu gostei muito dela – pediu Rosa, com o rosto ganhando uma tonalidade avermelhada.
– She said... she said you are very… very… very nice – gaguejou o gerente.
– Oh, thank you! You too – agradeceu a alemã, recebendo o troco e dando um sorriso gentil.
E então chegou a minha vez de ser atendido. Coloquei o prato na balança.
– R$ 10,55 – disse a caixa, enquanto eu me distraía vendo as luzes vermelhas na balança.
– Hum? –perguntei, voltando à Terra.
– Ele não fala português, Rosa, presta atenção! Ele deve ser o namorado da loira– disse o gerente, inconformado com o erro da funcionária.
– Ai, é verdade. Que cabeça a minha! Mas como fala esse valor?– desculpou-se a caixa.
– Ten reais and fifty five cents, mister– ensinou o gerente.
Paguei com o vale refeição e tirei a bandeja da balança.
Ao mesmo tempo, o gerente dizia para a caixa, crente que eu não entenderia:
– Que cara rabudo! Queria nascer na Alemanha para ter sorte que nem ele!
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