Dia desses, duas amigas vieram me perguntar o que eu tinha. Diziam que eu andava estranho, distante, bem diferente do que eu sempre costumava ser. Para ambas a resposta foi a mesma: “Nossa, você percebeu isso agora? Eu ando assim há... meses!”.
As duas perguntaram por que, e eu respondi na hora. “Sei lá, sabe? Quer dizer... é como se eu estivesse parado no mundo. Todo dia eu vivo sempre as mesmas coisas, nada de espetacular tem acontecido ultimamente. É como se eu estivesse em uma calmaria gigantesca e o mundo estivesse todo acelerado à minha volta”, filosofei. Sei lá.
Mas teve um dia em que algo de muito espetacular quase, mas quase aconteceu. Estava esperando para atravessar a Paulista com o Frango em um sábado à tarde, eram quase 14 horas. Estávamos conversando sei lá sobre o que, eu tinha um copo enorme de café na mão e me preparava para entrar no trabalho.
Acabei me virando para o lado a fim de ver o movimento dos carros até chegar a hora certa de atravessar. Acabei me distraindo com uma garota que estava à minha frente, também esperando para mudar de lado na Paulista. Ela era... ela era linda. Baixinha, cabelos castanhos desarrumados, olhos azuis... linda, linda, linda. Tinha uma pasta do Objetivo na mão, devia estar a caminho do cursinho.
Olhei tanto para ela que a avenida ficou calma e depois agitada novamente. “Droga, dava pra ter atravessado”, comentei com o Frango. Mas continuei lá, conversando com ele e a espiando vez ou outra. Notei que ela também começou a me olhar, talvez tenha gostado da minha camiseta. Ou da minha cara de intelectual furado com óculos e barba por fazer há quase uma semana.
O semáforo abriu e ela passou a andar na minha frente. Deu umas duas espiadinhas para trás, e eu não disfarcei olhar. Ela, então, sentou-se em um degrau do Escadão e continuou me acompanhando enquanto eu passava. Dei até um sorrisinho para ela, mas acabei passando reto e fui ao meu carro no estacionamento. O Frango tinha que pegar um tênis no meu porta-malas.
“Cara, você viu como aquela menina era bonitinha?”, comentei com ele. “Pena que eu tô atrasado pro trabalho, juro que pararia pra falar com ela. Mas... opa, peraí. Já sei, vou dar meu telefone pra ela. Sei lá, não custa nada. O máximo que pode acontecer é... sei lá, ela não me ligar”, me empolguei.
Tirei da mochila uma cópia da minha última entrevista exclusiva (ok, queria me mostrar um pouquinho para a garota). Nas costas da folha, escrevi meu nome, meu e-mail (do trabalho, claro), meu telefone... ensaiei o que falar para ela (“Humm, oi. Antes que você ache que eu sou louco, bom... te achei extremamente bonitinha, mas também estou atrasado para o trabalho. Em todo caso, ó”). Daria o papel, um sorrisinho e iria para a redação.
Me despedi do Frango e passei de novo no Escadão. Mas... ela não estava mais lá. Fiquei por ali mais uns cinco minutos na esperança de ela voltar... e nada.
Fui para o trabalho frustrado. Para mais um dia de calmaria.
3 comentários:
Adorei seu portunhol ;) haha
A respeito do por quê do meu comentário anterior ter sido feito em inglês, na verdade, aquilo é uma frase de um filme que eu tinha (re)visto naquela semana, e quando li seu post me lembrou muito. O diálogo seria:
Jesse: Oh, God, why didn't we exchange phone numbers and stuff? Why didn't we do that?
Celine: Because we were young and stupid.
Jesse: Do you think we still are?
Celine: I guess when you're young, you just believe there'll be many people with whom you'll connect with. Later in life, you realize it only happens a few times.
Jesse: And you can screw it up, you know, misconnect.
O nome é "Before sunset´", talvez você já tenha visto. Enfim, eu acho que o mesmo comentário vem a calhar nesse post..
Só um PS: "Before Sunset", ou "Antes do Pôr-do-Sol", é top 3 dos filmes que mais me marcaram nos últimos 5 anos. Espetacular!
Nesse ritmo, você logo vai acabar atropelado na Paulista - já é a segunda musa que você encontra atravessando lá nos últimos dias! Ah, e... "extremamente bonitinha?". Ou seja: "Dá para o gasto". Ok, relaxa, mulher é tudo louca mesmo.
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