Um dia desses eu cheguei em casa um pouco estressado. Nada de lá muito relevante, mas assim que parei meu carro na vaga na garagem, não tive muita vontade para sair de lá. Desliguei o motor, aumentei o som e me deixei ficar jogado no banco, apenas olhando o nada e pensando na vida.
Fiquei um tempo assim, quando então comecei a brincar de apertar os pedais do freio e da embreagem. A colocar as marchas, a brincar de dirigir com o carro parado na vaga. Como eu gostava de fazer com o carro da minha mãe – ironicamente, um bem parecido ao meu – quando eu tinha uns cinco anos.
Passei lá um tempinho, ouvindo a música em um volume aceitável e brincando de dirigir. Até que girei a chave, joguei uma água no vidro e ativei o limpador de pára-brisa. Fiz isso mais uma vez, e mais uma, e mais uma... Eu me divirto com o limpador de pára-brisa, para falar a verdade. Tem uns 15 anos que eu sou assim.
Em uma das vezes em que girei o contato para limpar o pára-brisa, acendi o farol e vi à minha frente um dos jardinzinhos do meu condomínio. Meus amigos e eu costumávamos correr por ali nos idos de 1997, 98, 99... quando brincávamos de esconde-esconde ou polícia-e-ladrão. Era divertido, eu tinha uns esconderijos bem legais.
Naquela época ninguém podia subir muito tarde. Todos éramos muito, muito amigos. Todos jogávamos futebol, depois conversávamos sobre a partida, depois brincávamos de esconde-esconde, conversávamos sobre novos esconderijos ou sobre aquela vez em que não-sei-quem salvou o mundo e fez tal pessoa contar mais uma vez.
Hoje ninguém mais corre por aquele jardinzinho, nem mesmo a molecada pequena. O lugar está todo bonito, com a grama bem-aparada, algumas plantas e tal. Na nossa época, no máximo tinha grama e uns galhos jogados no chão. Era divertido, a gente sempre corria por ali.
Na nossa época... na nossa época muita coisa era diferente por aqui. O parquinho não tinha grama, era todo de areia. A gente se sujava à beça, levava bronca porque estragava as meias... mas sempre valia a pena. Desbravar o esgoto (um canal que leva a água da chuva até um terreno baldio no final do condomínio) era sempre uma aventura. Legal também era quando aparecia um cachorro vira-lata por aqui, todo mundo adotava o mascote e se divertia com ele. Faz vários anos que eu não vejo um cachorro se perder por aqui.
Hoje em dia eu não vejo muita coisa por aqui, mesmo. Mal vejo meus amigos. Vários já se mudaram para outros prédios. Tem um que foi para Campinas; outro, para Botucatu... muitos outros que estão fazendo faculdade aqui em São Paulo e ainda moram no nosso condomínio, mas têm horários diferentes do meu. Quanto muito a gente se encontra para tomar uma cerveja na sexta à noite. Era mais legal quando a gente fazia vaquinha e comprava esfiha para comer na pracinha.
Muita coisa mudou. Sinto falta de viver tudo aquilo de novo, uma época em que não tínhamos preocupação alguma. E... bom, eu estava ali, jogado no banco do meu carro esperando o mundo acabar em barrancos.
Por sorte, o mundo não acabou. E ainda virou alguns dias até chegar hoje. É 30 de setembro, 2008 e tal. Faz 16 anos, eu estava em um quarto de hospital com minha avó, meu avô e meu tio, sentado na beira da cama da minha mãe esperando para conhecer meu irmão. Aí chegou aquela coisinha mirradinha, de cabelos loirinhos e tal no colo da enfermeira. Chorão, banguela. Segurei no colo. Aquela era... meu... irmão.
Minha mãe se esbalda de rir quando conta a primeira coisa que eu disse ao ser apresentado ao meu irmão. Como não vi os dentes dele, comentei na hora que deveríamos levá-lo urgentemente ao Doutor Acley (que era o dentista da minha mãe na época) dar um jeito no meu irmão. Eu lembro vagamente desse momento, para ser sincero.
Do último dia de setembro de 1992 até 2008, puxa, como o tempo passou. Meu condomínio mudou, os jardins daqui mudaram, a pintura dos prédios também. Meus amigos mudaram e se mudaram também.
A única coisa que não mudou muito é aquela coisa de que, sempre que eu olho para o meu irmão, vejo uma coisinha mirradinha de cabelos loiros (mesmo ele já estando quase do meu tamanho). Ele sempre vai ser meio chorão, aos meus olhos. E tarraqueta, azedo, manhoso. Ainda mais quando ele está no banco da frente do meu carro quando estamos indo à dentista.
Hoje vou ver meu irmão com 16 anos. Quando entrar em casa, me desvencilhar do cachorro que fará festa ao me ver e eu olhar meu irmão, acho que vou ver novamente aquela coisinha tarraqueta banguela. Acho que essa sensação não vai mudar.
Ainda bem.
3 comentários:
Uau.
1) Acho que tem uns dois dias, eu escrevi alguma coisa sobre sentir falta das coisas.
2) Até hoje eu não posso subir muito tarde =S
3) Seu irmão é loiro??? =O
É, acho que só.
=*
nhóóó!!!
Essa foi de arrepiar, meu velho. Parabéns a você, pelo belo texto, e a ele, aniversariante do dia.
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