O Louis Armstrong via um mundo maravilhoso, com o céu azul e nuvens brancas. Um mundo com bebês que choravam, e cresciam, e aprendiam muito mais do que jamais se poderia imaginar. Era um mundo maravilhoso, mesmo.
Ele (ele, um cara qualquer, não o Louis Armstrong) também achava isso. Gostava de andar com as mãos nos bolsos nos dias de sol brilhante ou então pela noite escura e abafada. Era vidrado em se vislumbrar com o mundo.
Mas nem sempre foi assim, claro. Antes disso, precisou reformular alguns conceitos e fazer uma autoterapia para se conscientizar de que o mundo poderia mesmo ser bom. Precisou dizer para si mesmo que tudo era belo, maravilhoso, e simples. Simples, isso. Foi simples o que ele fez: se forçou a esquecê-la.
Ah, ela? Ela quem? Não interessava, e mesmo que perguntassem ele jamais saberia. Para ele, ela tinha sido apenas uma criação de sua imaginação. Embora estivessem bem vivas as lembranças de tudo o que havia ocorrido não muito tempo atrás, jurava para si mesmo que talvez tivesse sido... sei lá, um sonho. Nada mais do que isso.
Não falavam que ele tinha uma imaginação fantasiosa? Pois então, tudo isso tinha sido proporcionado pelo mundo maravilhoso em que vivia. Demorou, claro, para colocar isso na cabeça. Mas aos poucos se convenceu de que o sentido da vida era andar por aí sob dias de sol brilhante ou pela noite escura e abafada.
Até que um dia acordou pela manhã, ainda era bem cedo, com uma mensagem no celular. “Oi, querido, quanto tempo! Quero te ver, te contar as novidades e tudo. Vamos sair? Hoje? Beijo, Ela”.
Achou que estava sonhando. Escancarou rapidamente a janela do quarto para ver que era tudo fantasia. Mas se decepcionou quando viu que o céu não estava azul e nem tinha nuvens brancas: estava frio, gélido, com uma neblina que deixava tudo ainda mais feio.
Todo o trabalho de autoterapia foi enviado ralo abaixo quando lavou o rosto após responder à mensagem: “Vamos. Hoje, naquele bar, às quatro”. Esqueceu que o mundo era maravilhoso e apenas se conformou com o fato de que ao mesmo tempo em que fazia um esforço enorme para esquecer, tinha também uma vontade incomensurável para se lembrar de tudo.
3 comentários:
Fazia tempo que eu não vinha aqui então não vou comentar tudo, mas viva os Ramones!!!!
fingir que não aconteceu é uma péssima escolha.
Voce escreve muito bem :}
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