Ele gostava de Ramones. Conheceu por meio de um amigo, quando tinha uns 12 ou 13 anos. E já considerava esse tempo bem longínquo. Ela... ela também gostava de Ramones. Começou a ouvir depois que viu um clipe na MTV. Ela devia ter, sei lá, uns 14 ou 15 anos na época.
Mas não foi por causa da banda de punk-rock que se conheceram (como se conheceram, no entanto, não vem ao caso). Só que foi graças ao Ramones que ambos transformaram em ainda mais intensa uma história que viveram.
Era uma tarde qualquer em um dia de semana quando se encontraram para irem ao cinema. Foram a um em que estava passando Meu nome não é Johnny, já fora de cartaz por um bom tempo por aí – não que o filme tivesse a ver com o quarteto nova-iorquino, mas ela achou que a trama seria legal (ela amava o Johnny Ramone – já ele preferia o esquisitão do Joey).
Quando se encontraram, na porta do cinema, ele gostou da blusinha que ela vestia. Era normalzinha, até, mas com umas letras psicodélicas que diziam “I wanna dance with you”. Ele, depois de alguns minutos, não deixou de perguntar se ela realmente queria dançar com ele. Ela corou, não respondeu nada. Compraram as entradas, entraram na sala... e, claro, não viram o filme.
Papo vai e papo vem, chegou a hora de irem embora. Ele se lembrou de deixar com ela o CD que havia prometido emprestar, o Mondo Bizarro. Ela tirou da bolsa um apenas para compensar, o It’s Alive. “É de um show que eles fizeram em Londres no reveillon de 1977 pra 1978. Foi um dos últimos shows do Tommy, é sensacional”, ela explicou. E ele, claro, ficou extremamente orgulhoso por ter saído com uma garota que soubesse tanto dos Ramones.
“Mas ó, posso te dar uma dica? Ouve algumas vezes só da faixa 19 pra frente”, ela sugeriu. Ele perguntou por que, ela se limitou a dizer “você vai entender”. Ele deu de ombros, abriu a porta do carro (sentia-se um cavalheiro) e colocou o CD para tocar.
Do you wanna dance and hold my hand?, cantou o Joey no mesmo em que ela pousou a mão esquerda sobre a coxa dele. Ele olhou para ela com o canto do olho, sorriu, ligou o carro e subiu a rampa do estacionamento. Ela não gostava muito da faixa seguinte, Chainsaw, mas deixou tocar porque viu que ele sabia a letra de cor.
A música que começou a tocar depois era uma das preferidas dele. Today your love, tomorrow the world. A canção acabou no exato momento em que 1977 virou 1978 em Londres, mas ele nem percebeu. Olhou para ela, sentiu um leve arrepio na espinha e decidiu abrir mão de todo seu jeito foda-se de ser dali pra frente. Assim que I wanna be a good boy começou. Só não pensou em cortar o cabelo de um jeito decente porque gostava do jeito que ela puxava os fios mais longos da nuca vez ou outra. Enfim.
Ele parou o carro na frente da casa dela quando a faixa 24 estava acabando. Ela, antes de sair do carro, perguntou o que ele iria fazer naquela noite. “Sei lá, talvez ficar jogado no sofá de casa esperando o mundo acabar. E você?”. Ela não respondeu. Preferiu a música seguinte, Let’s dance, começar. “Hold me tight, never let me go. “É isso que eu vou fazer essa noite. Não vou te deixar ir embora, simples”.
Ele, atônito, entrou para a casa com ela. E nem teve tempo de ouvir Oh, oh, I love her so.
2 comentários:
Hummmmmm, ê, beleza...
Bela trilha sonora. Bela história. E uma bela personagem, ao melhor estilo punk rock! Muito bom! :)
Nossa, que... fantástico!
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