quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Missa

Tem acontecimentos que não gosto de falar por aí (claro), e apenas alguns amigos mais próximos acabam sabendo de detalhes mais castos, sórdidos, bizarros ou marcantes da minha vida. Mas este... bom, confio aos dois leitores diários deste blog e aos 48 pára-quedistas que caírem aqui por meio de uma busca no Google.

Aconteceu um domingo desses, quando eu estava saindo de casa logo cedo para o trabalho. Assim que abri a porta do prédio, senti um vazio – que foi crescendo enquanto eu me aproximava do portão do condomínio. “Quando foi a última vez que eu fui à igreja? Hum... bom, já faz tempo. Tirando aquelas na Argentina, com a menina suíça porque ela queria ver a arquitetura latina... mas à missa, putz, tem tempo”.

Continuei com esse pensamento tentando me lembrar da data exata. “Acho que foi em 2005. É, isso, na Primeira Comunhão do meu irmão. Ah, mas... teve também a missa de sétimo dia do pai do meu amigo. Não, não... a última mesmo foi a missa da minha formatura, verdade”. Ou seja, quase três anos. “Bom, tá na hora de ir, não?”.

Admito que não sou lá um cara muito religioso. Já fui mais, muito mais, quando era mais novinho. Mas aí depois eu fiz a minha Primeira Comunhão, com 11 anos, e acabei desaparecendo da igreja que tem aqui do lado de casa.

Além disso, nunca fui lá de cumprir promessas: nas minhas rezas antes de dormir (antes, eu rezava um Pai Nosso, uma Ave Maria e ainda uma oraçãozinha de minuto – hoje em dia, se eu me lembro, faço um Sinal da Cruz), vez ou outra pedia alguma coisa bem idiota (do tipo passar de ano sem recuperação) e... ok, nunca cumpria.

O pensamento da igreja perdeu espaço logo depois nos meus pensamentos quando fui chegando ao trabalho. Segui minha rotina de sempre, trabalhei lá umas sete ou oito horas e decidi voltar para casa. Liguei o rádio no jogo do Palmeiras, abri a porta de casa, do meu quarto e desfaleci na cama.

Só fui acordar exatamente às 18 horas. “Putz, bem que eu poderia ir à igreja, né? É bem a essa hora que começa a missa”. Então coloquei uma calça jeans, uma camiseta branca e andei os três quarteirões até a capelinha aqui do lado. Sentei em um banco lá no fundo e fui acompanhando as falas no jornalzinho.

Comecei a olhar em volta durante os sermões e vi que até tinha bastante gente na igreja, tão apinhada como antes. Mas percebi que... bom, uma boa parte das pessoas por lá era de pessoas aparentemente pobres. Difícil achar alguém que parecia ter uma condição social melhor. Passou a impressão de que a maioria das pessoas ricas não tem por que ir à igreja, né?

Notei que algumas das músicas cantadas durante a missa eram diferentes em relação àquelas que eu ouvia há uns dez anos, quando ia para a missa das 18 horas acompanhado do meu pai. Para falar a verdade, senti um pouco a falta dele ali. Era a minha primeira missa sozinho, aliás.

Então chegou a hora da eucaristia. Fui para a fila depois de um tempinho e me lembrei da primeira vez em que recebi a hóstia. Por um momento me senti pré-adolescente de novo, mas olhei para trás e não vi meu pai lá com um sorriso contido. Estremeci.

Não sei se sou só eu, mas me sinto completamente baqueado quando coloco a hóstia na boca. Penso na vida, penso na minha avó, no meu pai... penso em tudo, menos em mim. Fiquei realmente ... realmente pensativo naquela hora. Ajoelhado, tentei extravasar o choro que tinha tentado sair na hora da fila. Não consegui. Isso me deprimiu.

A missa acabou logo depois, e eu voltei para casa. Com as mãos nos bolsos e bem, bem tranqüilo comigo mesmo.

3 comentários:

Bonie disse...

"Antes, eu rezava um Pai Nosso, uma Ave Maria e ainda uma oraçãozinha de minuto – hoje em dia, se eu me lembro, faço um Sinal da Cruz" - idem.

Aliás, sempre que eu, pooor acaso, estou na missa, o padre fala aquelas coisinhas lá e eu, ouvindo, nunca me acho digna de receber a hóstia :S

Resultado: a única vez que eu comunguei foi... na minha primeira comunhão =D

Não é por mal nem nada, mas eu nem sou religiosa, nunca vou pra lá e um belo dia do nada resolvo entrar na fila da hóstia?

Whatever.

paula r. disse...

às vezes eu sinto vontade de ter fé.

Anônimo disse...

Quando pequerrucho, na verdade até uns 11, 12 anos, ia à Igreja todos os domingos com os meus pais - hoje em dia, minha mãe e eu abandonamos esse hábito, e só vai o meu pai. Acho que também me tornei um "infiel" depois da Primeira Comunhão, hehehe...

Não tenho mais quase nenhuma identificação com a Igreja Católica, mas acredito muito em Deus. E rezo sempre também.

À Igreja, Igreja mesmo, no entanto, já faz uns bons 10 anos que eu não vou...