Foram exatos 20 dias seguidos de expediente olímpico, com uma carga horária média de 7h30 por dia (50% a mais do que meu expediente normal, de 5 horas diárias). Foram em média 15 notícias por dia, cada uma com média de 1.500 caracteres cada. Vamos às contas.
No total, pode-se dizer que foram 150 horas de trabalho, 300 notícias e 450 mil caracteres (para se ter uma idéia, a minha faculdade exige que um livro-reportagem de Trabalho de Conclusão de Curso tenha, no mínimo, 150 mil caracteres). Esse número realmente me assustou – eu poderia ter escrito um livro, ou até dois.
Mas os números não são a melhor maneira de exemplificar o quão paranóico foi a cobertura dos Jogos Olímpicos de Pequim para a minha pessoa. Não fiz as contas, mas sinto que passei mais tempo trabalhando do que dormindo. Além disso, acaba ficando mais ou menos obrigado a escolher: sono ou almoço. Optava pelo sono, eram 30 minutos sagrados.
Tive pouquíssimas aparições sociais nesse meio-tempo. Em 20 dias, o máximo que consegui foram três horas totais de bar, um almoço com uma amiga, um jantar de aniversário de outra amiga e um ou outro compromisso de última hora. Deixei de responder muitos e-mails ou outras mensagens pessoais. Poderia me considerar em um mosteiro, se não trabalhasse em uma redação.
Em quase três semanas, aumentei consideravelmente a quantidade de café consumida. Necessário para ficar acordado. Minha alimentação foi sem dúvida para o beleléu com coisas rápidas compradas pela Paulista para não chegar (ainda mais) atrasado. Nos raros momentos de almoço ao pé da letra, vibrava comendo espinafre, brócolis ou alface.
Vida saudável não foi mesmo a minha máxima durante as Olimpíadas, mas consegui até bater umas raquetadas nesse período. Muito pouco, é claro. Acordar cedo? Bom, na maioria dos dias eu dormia com o sol raiando. Ok, vamos mudar de assunto – não quero comentar sobre as minhas olheiras.
Mas o pior mesmo nesse período foi o aspecto psicológico. Tive alterações homéricas de humor. Andei estressado. Cerca de 90% dos meus assuntos era esporte. Atendia o telefone pensando em falar o nome da empresa (e algumas vezes falando), trocava o nome de pessoas, confundia os dias da semana e de alguns eventos (quase todos eram Olimpíadas).
Só que nem tudo é motivo para reclamação. Pude curtir as madrugadas muito mais do que o normal (sempre tinha alguma coisa interessante para ver na televisão), aproveitei para entender um pouco mais de uma ou outra modalidade, vi alguns dos atletas que eu já havia entrevistado por aqui competindo com a nata do esporte mundial, fui entrevistado por um jornal chileno... e, em se tratando de blog, pude reeditar a fórmula das rapidinhas. Que cativou até novos leitores e leitoras para este espaço.
Mas acabou. Os Jogos Olímpicos de Pequim acabaram e só voltam dentro de quatro anos. Respirei aliviado quando vi a tocha olímpica se apagar, mas... mas como sempre acontece ao término de um grande evento, bateu até uma tristeza. Aquela coisa de fim de festa.
Bom... a tocha apagou lá em Pequim, mas apenas com este post encerro a série das rapidinhas olímpicas. Fórmula que deu certo e voltará dentro de algum tempo, com algum outro evento que valha a pena. Por ora, este blog retoma sua programação normal. Ufa!
(Últimas!!) Rapidinhas olímpicas:
Paranóia: Percebi que tinha atingido o meu limite profissional quando passei uma tarde inteira tentando ligar para uma jogadora da seleção de vôlei que não foi convocada para Pequim. Ela não atendeu e eu, na tentativa de conseguir falar com ela, até mandei uma mensagem de celular tentando marcar a entrevista. Claro que não deu certo, né?
Amarelada?: Eu poderia falar que foi mais uma amarelada. Que foi azar. Que foi um fracasso, uma decepção, um vexame, uma pataquada. Que me fez perder preciosíssimas horas de sono. Mas... ah, por mais que eu queira, não tem como criticar a seleção brasileira masculina de vôlei, né? Os caras simplesmente ganharam tudo nos últimos oito anos, seria uma puta injustiça falar em fracasso.
Comparação: Posso não criticar, mas nada me impede de fazer um comentário. Bom, com certeza as pessoas aí conhecem o Murilo Endres, irmão do Gustavo. Uma vez fui a um jogo da seleção de vôlei aqui em São Paulo com uma amiga e ela não parava de falar que o cara era lindo, que o cara era sei lá o quê e blábláblá. Vendo o cara todos os dias na tevê recentemente, notei que o Murilo é quase o irmão gêmeo loiro do Boça. E percebi que entender o gosto feminino é uma missão quase que impossível.
Bônus: É incrível o que a Globo conseguiu. Após as competições, mais de 95% dos atletas que eu vi dando entrevista para os repórteres da Vênus Platinada bem que tentavam contornar, mas acabavam chorando em frente às câmeras após as várias investidas dos repórteres. A lista é grande, passando por Jade Barbosa (claro!), meninas do futebol, César Cielo, Maurren Maggi, judocas em geral, pessoal do vôlei praia, etc., etc., etc. Não há dúvidas de que eles devem ganhar pelo menos umas 500 pratas por cada lágrima derramada em rede nacional.
O último choro: Essa insistência dos repórteres da Globo atingiu seu ápice de inconveniência com o Marcelinho, levantador da seleção de vôlei. O cara já tinha perdido o jogo, já estava se matando para não abrir o berreiro na televisão... até ensaiou algumas palavras de explicação para todo o Brasil e depois pediu para o repórter falar com o Gustavo, que também estava lá. “Marcelinho, a sua família está ao vivo assistindo a você”. O cara, que virou pai e ainda não viu o filho, não conseguiu mais segurar. Agora me diz: pra que fazer isso?
Direitos autorais: Imagino que a maioria dos vídeos que foram linkados aqui durante esse período rapidinhas olímpicas já foi retirada do ar no YouTube. Por causa dos direitos de transmissão dos Jogos, os trechos eram bloqueados pelo site cerca de dois dias após irem ao ar. Não precisava, hunf.
Escola eslava: Quando o Brasil perdeu o Pré-olímpico das Américas de basquete masculino e ficou fora de Pequim, o Oscar Schmidt falou aos quatro ventos que a nossa seleção tinha que seguir a escola eslava de basquete. Na hora não questionei – era a opinião de um monstro sagrado na bola-na-cesta, não? Mas os dois países eslavos nas Olimpíadas não tiveram muito sucesso: a Rússia ficou pela primeira fase e a Croácia caiu nas quartas-de-final. Será que a gente ainda tem que seguir um padrão perdedor? Já que não temos o modelo brasileiro de basquete (ufa!), não seria mais fácil seguir o modelo vencedor de Estados Unidos, Espanha ou Argentina?
Raios, duas vezes, mesmos lugares...: No ano passado, quando o Brasil ficou por umas duas horas à frente de Cuba no quadro de medalhas do Pan-americano do Rio de Janeiro, até dei um print screen do quadro de medalhas (imagem que jaz no arquivo-morto do meu computador falecido) achando que jamais veria algo semelhante. Um ano depois, não é que o esporte verde-amarelo (mais amarelo do que verde) conseguiu, e com cinco postos de vantagem (ficamos no 23º lugar, enquanto os atletas ex-Fidel terminaram na 28ª colocação)? Claro que não é lá tão mérito nosso, mas sim demérito cos caribenhos. Ainda assim, um quadro de medalhas histórico.
Futuro: Não é preciso ser gênio para saber. Modalidades como vela (sobretudo classes como RS:X e 470), taekwondo, salto em distância, salto com vara, judô, taekwondo e até mesmo a ginástica artística e o futebol feminino só serão lembradas dentro de três anos, com os Jogos Pan-americanos. Alguém duvida?
3 comentários:
ó, falando do murilo, também acho o cara uma versão desse ator aqui ó http://www.imdb.com/name/nm0876138/
as rapidinhas mais uma vez foram bem legais, já aguardo as de 2010, afinal, a áfrica do sul é logo ali.
abraço!
acabou. e eu, apesar de não fazer cobertura nenhuma de olimpíada, estou no fuso de pequim. essa noite só consegui pegar no sono por volta das 5 da manhã, sendo que tinha que acordar antes das 8. meu relógio biológico avisa que sou uma retardada por fazer coisas assim, mas eu ignoro. enfim.
Acabou, acabou, acabou!!!!!!!! Até já voltei rapidamente aos meus pitacos, só para celebrar as "férias" pequinesas! Hehehe.
Parabéns pelo trabalho, cara! A todos nós, né? :)
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