Tem coisas que as pessoas falam e que não fazem sentido algum – e não se pode dizer que se trata de mentiras, pois há casos em que é possível detectar um fundo de verdade nisso tudo. E um dia desses, voltando para casa e conversando com o Shrek, acabei me lembrando de um dos capítulos mais marcantes dessas groselhas que o povo fala.
Aconteceu no final do meu primeiro dia de trabalho, relatada previamente neste espaço, na fase talvez mais pantanosa deste blog. Àqueles que não conhecem a história, um resumão: Tinha conseguido meu primeiro emprego em agosto de 2006, com apenas uns quatro meses de faculdade, em uma assessoria de imprensa meia-boca em Pinheiros e, antes de ir embora, pediram para que eu passasse na sala do chefe.
Entrei no escritório reservado e o cara estava lá, com a cadeira giratória de costas para mim. Anunciei a minha presença e o dono da assessoria começou o discurso, mais ou menos assim: “Olha, o nosso cliente acabou de romper com a gente e a empresa vai entrar numa fase de vacas magras. Por isso, nós vamos ter que repensar o programa de estágio”, iniciou.
Dois segundos para processar a informação: “Putz, que ruim repensar o programa de estágio... opa, peraí! Eu sou o estagiário, então isso quer dizer que...”, pensei comigo mesmo.
“Desculpa, Felipe. Tô morrendo de vergonha disso que aconteceu. Você, mesmo tendo trabalhado apenas um dia, mostrou que é um profissional bastante competente e com um futuro mais do que promissor, além de ser um cara gente fina. Tenho a certeza de que esse período vai passar e eu vou te recontratar, mas demos o azar de termos atravessado este momento justo agora”, prosseguiu.
Continuei ali, estático, tentando entender o que estava acontecendo.
“Você tem o perfil profissional de que a empresa precisa. Você foi o melhor estagiário com quem eu já trabalhei, e digo isso com a maior sinceridade possível. Me dói ter que tomar essa atitude, só que... desculpe”.
Ergui a cabeça, virei as costas e saí do escritório para nunca mais voltar. Peguei o elevador, desabotoei um botão da camisa e comecei a rir. “Se ele disse tudo isso, quer dizer que eu mandei bem e a minha parte eu fiz”, comentei para mim mesmo, talvez até em voz alta.
No dia seguinte, os outros funcionários do lugar vieram me deixar mensagens no Orkut: “É uma pena que tenha acontecido isso, mas saiba que você foi um profissional de muito caráter e muito talento”, disse uma das garotas. “Não concordamos com o que aconteceu e estamos do seu lado. Mas agora erga a cabeça e corra atrás do seu futuro”, recomendou outra.
Superei – e com estilo – essa experiência traumática. Embora tenha prometido para mim mesmo não mandar mais currículos tão cedo, um dia depois estava me inscrevendo para o processo seletivo da Gazeta Esportiva.Net. Fiz os testes, as dinâmicas, fui aprovado e estou prestes a completar um ano e meio na redação que me proporcionou crescimentos profissional e pessoal enormes.
Mas não escondo: às vezes, me dá uma vontade enorme de imprimir as minhas melhores entrevistas exclusivas e reportagens especiais assinadas que fiz nos últimos 18 meses e deixar sob a porta daquela assessoria de imprensa. Nunca fiz isso, mas que dá vontade...
O mais engraçado (engraçado?) é que recentemente passei por situação semelhante, mas em outro contexto. O que isso quer dizer? Que o mundo não é um lugar seguro, e as pessoas estão cada vez menos sãs.
2 comentários:
Uma vingança melhor ainda seria pedir emprego lá de novo, conseguir, trabalhar um dia e depois se demitir, hahahahaha...
Nada melhor que as voltas que o mundo dá, não?
Postar um comentário