Porto Alegre (RS) - Dono de uma fábrica de artefatos de couro (eu não sei o que é um artefato de couro), o tal do Ronaldo se mostrou um cara extremamente bacana. Enquanto eu escrevia o relato anterior, ele enfrentava a fila de check-in da Gol e pegava a minha passagem para Porto Alegre.
Assim que ele voltou ao saguão e me deu a passagem, continuamos conversando. Ele disse um pouco mais da vida dele: tinha filhos, recentemente havia viajado para Itália e Alemanha, não ia mais a estádios, simpatizava com o Cuca como treinador e achava que o problema do Grêmio não era o Celso Roth, mas sim a diretoria.
O Ronaldo também disse que não morava em Porto Alegre, mas em São Leopoldo – uma cidadezinha próxima. Pelas minhas contas, deve ser tipo São Caetano do Sul em relação a São Paulo. Ele, aliás, conhecia São Paulo e até me contou uma história de que estavam querendo construir uma ferrovia São Paulo – São José dos Campos. Onde foi que eu ouvi essa história antes?
Ficamos batendo um papo legal até a hora do embarque. A caminho do avião, um sábio comentário: “Bah! A gente passa por tanta merda na vida e se vê em situações tão fodidas que, quando melhora um pouquinho, tudo já tá perfeito, não?”. Não tinha como não concordar. Estava extremamente empolgado por ter conseguido aquele vôo-surpresa na madrugada.
Minha poltrona no novo vôo era a 25C, e a do Ronaldo era na fileira 11. Fui para o meu lugar e não nos falamos mais durante o vôo. Até aproveitei para tirar um cochilo e tirar um pouco do atraso do meu sono. O avião decolou, pousou, todos os passageiros foram embora e eu era um dos últimos da fila.
Fiquei uns belos minutos, já sentindo o frio porto-alegrense, esperando pela minha mala na esteira. Assim que ela apareceu, coloquei-a sobre o carrinho e parti rumo à saída do Aeroporto Salgado Filho (haha). E até um pouco chateado. “Incrível como eu conheço pessoas que vão embora e não se despedem. O Ronaldo e o outro cara (cujo nome eu não conhecia, mas ficou nosso colega durante o primeiro vôo) desapareceram. Bom, é a vida”, pensara.
E não é que, no mesmo instante, ouvi uma voz com sotaque gaúcho? “Pois é, Felipe. Quem diria que tudo daria certo?”, destacou o Ronaldo. “É, então. A essa hora a gente ainda nem teria saído de Floripa, se viesse de ônibus”, respondi. Ainda falamos mais algumas trivialidades, até que chegamos à porta.
“Você vai pegar um táxi?”, perguntou. “Uhum, vou”. “Bom, se você fosse pros lados de São Leopoldo eu te dava uma carona. Mas boa volta pra casa, foi um prazer. E boa sorte na tua carreira”. Desejei o mesmo a ele. Trocamos tapinhas nas costas e cada um seguiu seu caminho.
A sina insana do meu trajeto São Paulo – Porto Alegre chegou ao fim, e agora escrevo da minha cama no hotel. Mas a viagem, e a saga Onde está Wally? deve ganhar mais alguns capítulos.
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