Um das coisas estranhas que aquele cara passou a fazer recentemente era a de, às vezes, parar na frente de um espelho de banheiro, apoiar os braços sobre a pia, inclinar o tronco para frente e suspirar, olhando dentro dos próprios olhos. Isso não aliviava suas tensões, mas mesmo assim continuou com o hábito.
Ele achava estar meio perturbado. Vinha mudando de humor constantemente, indo da felicidade extrema à depressão profunda e retornando em menos de duas horas e não entendia bem o porquê. Ou não queria entender.
Acordou em um dia de verão e não viu o céu azul e nem o sol brilhar, como havia se tornado costume nas últimas semanas. Também não ouviu os passarinhos cantando e nem nada. Não sentiu um arrepio gelado em pleno calor. Sentiu algo inflamado dentro de si em pleno dia frio. Por certo andava perturbado.
Foi quando parou em frente ao espelho do banheiro, apoiou os braços sobre a pia, inclinou o tronco para frente e suspirou profundamente, olhando dentro dos próprios olhos. E percebeu que havia se enganado: não estava preocupado, mas apenas inseguro. Com medo. Estava tremendo de medo.
A razão de tal temor não tardou a aparecer. Andando pela sala inóspita, puxou o lábio inferior em um gesto pensativo e sentiu o que lhe atordoava. Estava prestes a perder a mulher amada e não sabia como lidar caso o fim se concretizasse.
Não, não tinha a menor noção do que iria fazer diante da situação constrangedora e iminente. E, embora nada ainda tivesse sido sacramentado, já sentia falta de todos os pequenos detalhes que haviam aquecido – e superaquecido – seu coração.
Sentia falta do cheiro doce que sentia quando abraçava a mulher. Sentia falta de ouvir a voz ainda mais doce da mulher quando conversavam ao pé do ouvido. Sentia falta de segurar a mão pequena, macia e delicada da mulher. Sentia falta de sentir a pele do rosto da mulher na palma de sua mão. Sentia falta de encostar o nariz ao nariz da mulher e olhar no fundo dos olhos dela.
Sentia falta de sorrir ao encostar o nariz ao nariz da mulher e vê-la sorrir de volta. Sentia falta de olhar a boca pequena e delicada da mulher. Sentia falta de beijar a boca pequena e delicada da mulher. Sentia falta das mordidas que a mulher dava no lado esquerdo de seu lábio enquanto se beijavam. Sentia falta de ter o lado esquerdo do lábio inferior inchado pelos beijos da mulher.
Sentia falta de tudo isso e muito mais. Ele sentia falta da mulher. E não saberia como conseguiria viver daquele dia em diante se não visse mais aquele sorriso que durante rápidos momentos iluminou o mundo.
Compreendido por si mesmo, parou em frente ao espelho do banheiro, apoiou os braços sobre a pia, inclinou o tronco para frente e suspirou profundamente, olhando dentro dos próprios olhos. E viu uma lágrima solitária cair do seu olho direito. Da mesma forma que quando estava com a mulher.
Um comentário:
Você é o cara Fê!
PArabéns pelos textos.
beijooos
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