terça-feira, 25 de março de 2008

Cor local

Era um início de tarde de sábado quando parou no semáforo para atravessar a Paulista do lado par para o ímpar. Estava um calor de matar, o céu estava azul e havia um sol forte e bastante iluminado sobre a cidade.

Ao parar diante da luz vermelha, brincou consigo mesmo: “Daqui a pouco o semáforo de pedestres vai abrir. A luz verde vai brilhar e vai permitir que você enfim inicie a sua vida. Este é o início de sua vida!”, pensou, com um sorriso no rosto e uma taquicardia no peito.

Então os carros pararam. O bonequinho vermelho ainda aparecia quando alguns dos pedestres atravessaram a avenida. Ele preferiu não avançar o sinal e só pisar na faixa quando as luzes indicassem. Alguns segundos depois as cores mudaram e ele respirou fundo. “Preparado? Não? Ah, mas você é um homem ou um rato? Tá bem, preparado. Vamos lá!”. Atravessou a rua.

Entrou em uma livraria. Desceu as escadas, passou pelo corredor com televisões de última geração, passeou por entre CDs e DVDs de vários estilos, subiu a escada rolante e logo se deparou com a mulher com quem iria se encontrar. Fingiu não tê-la visto e virou à esquerda. “Será que ela é mesmo a mulher da minha vida? Bom, vamos descobrir”.

Passeou por entre as estantes até que parou do lado dela. Cumprimentaram-se. Conversaram um bocado e resolveram ir almoçar. Voltaram a atravessar a rua, entraram em um shopping e pararam em um restaurante por quilo.

Encheram os pratos com carpaccios – a especialidade da casa –, salmão e uma torta de espinafre. Indicou uma mesa para a garota, que preferiu outra. Sentou-se à frente dela e começaram a comer enquanto conversavam.

Era só o início de um relacionamento intenso, que aqueceria seu coração.

Mas o tempo passou rápido para aquele cara que havia iniciado uma nova vida recentemente. E ele percebeu isso duas semanas depois do seu “primeiro dia de vida”.

...

Era um início de tarde de sábado e lá estava ele novamente parado no semáforo da Paulista para atravessar do lado par para o ímpar. Estava um frio de rachar, o céu estava cinza e caía uma garoa que agulhava a cidade.

Ao parar diante da luz vermelha, brincou consigo mesmo ao se lembrar do que acontecera tempo atrás. “Daqui a pouco o semáforo de pedestres vai abrir. A luz verde vai brilhar e vai permitir que você enfim constate que a sua vida mudou”, pensou, um aperto no peito.

Então os carros pararam. O bonequinho verde ainda não aparecia quando alguns dos pedestres atravessaram a avenida. Ele preferiu não avançar o sinal e só pisar na faixa quando as luzes indicassem. Alguns segundos depois as cores mudaram e ele respirou fundo. “Preparado? Ah... sim, preparado. Vamos lá”. Atravessou a rua.

Entrou em uma livraria. Desceu as escadas, passou pelo corredor com televisões de última geração, passeou por entre CDs e DVDs de vários estilos, subiu a escada rolante e não se deparou com a mulher com quem não iria se encontrar. Mas fingiu tê-la visto e virou à esquerda. “Será que ela era mesmo a mulher da minha vida? Eu acho que sim”.

Passeou por entre as estantes até que parou no mesmo lugar em que havia parado do lado dela. Um casal de namorados via o livro na estante. Resolveu ir almoçar. Voltou a atravessar a rua, entrou em um shopping e parou em um restaurante por quilo.

Não havia carpaccios aquele dia. Nem salmão. A torta de espinafre ainda estava lá, mas sem espinafre. Viu que a mesa onde havia sentado com a garota duas anteriormente estava ocupada por outro casal. Sentou-se na que tinha indicado a ela e começou a comer. Não balbuciou um som sequer.

Ele sabia que o relacionamento estava prestes a acabar. O coração gelado anunciava.

...

Mal sabia ele que, no dia em que o fim fosse anunciado, o sol desapareceria do céu e daria lugar a uma chuva que caía forte e feria a estrada tortuosa.

2 comentários:

Alemão disse...

Eu detesto dias chuvosos.
Mas no meu estado mental atual, não posso escrever sobre isso.

Caroline Arice disse...

Seu blog é muito mais "certinho" e literário do que o meu. O meu funciona mais como uns fichamentos de filmes que assisto, sabe?
Mas está devidamente adicionado.