Nunca botei muita fé em ter um papo inteligente e intenso às sete da manhã em um domingo. Mas como tudo é possível no universo paralelo da Avenida Paulista, acabei quebrando a cara há duas semanas.
Ao chegar na recepção do prédio do trabalho, encontrei o segurança que sabe meu nome embora eu não saiba o dele (sim, eu tenho vergonha de perguntar o nome dele mesmo depois de um ano lhe dizendo bom dia diariamente) e pedi pela chave da redação. Enquanto preenchia a planilha com horário, meu nome e a minha assinatura, o tal segurança puxou assunto.
“Cara, já é 16 de março. O tempo voa!”. Preparado para receber um clichê do tipo, respondi outra frase feita a ponta da língua. “É... e parece que o ano começou ontem. E pensar que daqui a pouco chega julho, agosto... e em setembro o ano já acabou”, redargüi. Era um papo normal até então, não fosse o carismático recepcionista improvisado decidir prolongá-lo. E muito bem, diga-se.
“É por isso que a gente tem que saber aproveitar o tempo da melhor maneira possível, né? Às vezes o cara fica aí, falando que não curtea vida e nem nada, não junta dinheiro, tira férias e não viaja...”, filosofou, até ser interrompido por mim.
“Pois é. E aí volta ainda mais estressado do que antes. E ainda pior, porque não vai ter a expectativa pra sair de férias”, emendei. A resposta do segurança me surpreendeu. “É por isso que a gente tem que aproveitar cada momento, cada segundinho da nossa vida, né não? A gente nunca sabe quando vai ser o último segundo, né? Aí quando a gente abre o olho, diz que o tempo passou rápido e reclama que não aproveitou nada. A gente tem que curtir tudo o que passar pela nossa vida...”, argumentou, antes de ser mais uma vez interrompido pela minha pessoa.
“... viver com intensidade, né? Pra depois não ficar reclamando da vida, mas sim se orgulhar de tudo o que a gente fez. Tudo passa muito rápido e, se a gente não souber perceber o que acontece e tirar do momento apenas coisas boas... enfim, vai se pegar reclamando da vida à toa”, vislumbrei.
“Falou tudo, Felipão, falou tudo”. “Que é isso, campeão. Bom dia e bom trabalho, cara. Mas ó, daqui a pouco eu passo aqui em agosto e você vai dizer 'pô, já é agosto' e blablablá. Aproveita o tempo, pô”. “Você também. Vê se aproveita a tua vida, Felipão”.
Filosofei em um domingo às sete da manhã. Aproveitei cada segundo a partir de então como se fosse o último. E não me arrependi.
Um comentário:
Hahahaha...o bom e velho carpe diem, né Felipão?
Um clichê verdadeiro...
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