domingo, 16 de março de 2008

Não vi Valdívia, mas vi Zidane

Era dia 12 de julho de 1998 quando o dia, um domingo insosso, estava frio, chuvoso e cinzento. Naquela data, à tarde, parei em frente à televisão da sala com o resto da minha família e torci. Era final da Copa do Mundo.

Mas a minha vibração demorou menos que 45 minutos: bastou um cara antes desconhecido marcar dois gols de cabeça e acabar com os sonhos de toda uma nação sul-americana.

Quase dez anos se passaram até que o cinza voltou a ser a tônica de um domingo na capital paulista. E eu me via em uma sala, sem o resto da família mas com um monte de colegas desconhecidos de imprensa, com um microfone na mão.

“Zidane... opa, eu, aqui em cima. Isso. Zidane, eu queria saber o que você espera da Eurocopa este ano, se já aponta uma ou mais seleções favoritas... e também se o fato de que o Trezeguet pode ficar de fora por causa dos problemas com o Domenech deixa a França mais fraca?”.
Foto: Marcelo Ferrelli/GazetaPress
E foi assim, fiéis (dois) leitores, que eu percebi o que tinha acabado de acontecer. Sim, eu tinha entrevistado Zinedine Zidane, o craque da França e carrasco do Brasil nas Copas de 98 e 2006. O cara considerado o melhor jogador do mundo nos últimos tempos. O último gênio do futebol. Ele mesmo.

Reconheço que a pergunta feita por mim não era lá essas coisas. Acontece que cada jornalista tinha direito a bolar três perguntas, das quais uma seria escolhida. E as duas perguntas criativas boladas pelo Mané não passaram no crivo da assessoria de imprensa do Zidane.

Mas enfim. Meu primeiro contato com o Zidane foi, ironicamente, em uma favela. Na Heliópolis, que tem 1 milhão de metros quadrados e 125 mil habitantes (nota da redação: dados coletados em um trabalho acadêmico não feito em 2007). E ele, mais ironicamente ainda, vestia uma jaqueta verde e amarela. Deu até raiva, não fosse aquela sensação de ver de pertinho alguém que eu só via pela TV a cabo e no videogame.

Só que não fui o único que teve essa raiva aliviada pela presença do carequinha. Na quadra de futsal do Clube Paineiras (que ganhou a minha simpatia ao ter uma sala de imprensa muito boa e por ter várias quadras de tênis muito bem conservadas), foi até certo ponto chocante ver um grito uníssono quando o Zidane apareceu. Não havia um grito de desaprovação. Todos estavam vislumbrados. E eu também.

Até que a bola começou a rolar. Eu, colado na lateral da quadra, usava a minha credencial de imprensa como desculpa para ficar tão pertinho de craques como Djalminha e Rivelino. Até que chegou um cara mal humorado da arquibancada e pediu para eu sentar no chão – o que não me deixaria ver o jogo. Segue o diálogo.

Foto: Reprodução
“Cara, não dá, tô trabalhando (eu estava mesmo)!”. “Ah, mas eu não consigo ver assim”. “E aí quem não vai ver sou eu. E eu tô trabalhando!”. “E você não pode abaixar um pouco?”. “Não. Eu já sou baixo, não tá vendo?”. “Vai, senta que eu tô mandando”. “Hahahaha! Mandando? Hahahaha!”. “OK, não vai sentar?”. “Nem a pau!”. “Então vou contar pro seu supervisor”. E eu comecei a rir. Imaginei um cara ligando em pleno domingo pro Raul, editor de plantão, e dizendo “Olha, o seu repórter não quer sentar no chão”. Seria bizarro.

Polêmicas à parte, vários molequinhos de dez anos, cúmplices por estarem de pé ao meu lado, me defenderam. E começamos a bater um papo. Eles perguntaram meu nome, perguntaram se eu escrevia no jornal, disseram que iam ler a matéria e um deles até se comprometeu a mandar um e-mail pro Fale Conosco dizendo que eu era gente boa e merecia um aumento. Engraçado.

Então o jogo de futsal acabou, o Zidane saiu da quadra e eu voltei para a sala de imprensa. Foi só então que lembrei do clássico entre Palmeiras e São Paulo e passei a acompanhar o resultado pelo ao vivo do site. Enfim (por solidariedade ao Fabio e mantendo o combinado de pegar leve no blog depois do duelo, fica restrito à matéria do Fini o meu comentário do jogo).

Bem... não vi o clássico do final de semana. Trabalhei como uma mula, fui abandonado no meio da favela (as vans reservadas aos jornalistas não me esperaram e, por sorte, eu consegui voltar em um microônibus da Adidas) e não comi nada o dia todo. Mas vou poder um dia contar aos meus filhos que entrevistei o Zidane e o vi jogar. Ao vivo, a cores e a meio palmo de mim. E vou poder até mostrar a minha foto com o craque para eles!

Foto: EFE
OK, eu sei que esta é a minha primeira foto pessoal neste blog, mas... para quem caiu aqui de pára-quedas, eu sou a pessoa em destaque. Isso, ali em cima, perto do travessão. Ou pelo menos aquela é a minha barba.

5 comentários:

Anônimo disse...

- Missão: Ingresso para ver Zizou.
- Armas: Cinco quilos de arroz.
- Local: Loja da Adidas
- Horário: 11:05

------------FAILED-------------

Na verdade são três leitores fiéis. (acho)

E eu nem vou comentar do jogo do Palmeiras.

Mas COMO EU QUERIA ter visto Zidane.

Anônimo disse...

Conhece a expressão "inveja branca"?


Tudo o que eu quero agora é chorar. Perdi talvez a única chance que eu tenha na minha vida de ver o Zidane jogando - que, aliás, é bom demais até de calça jeans!

Perto disso, o que é o Palmeiras? Sou mais Zidane, o Valdívia Francês!

Anônimo disse...

Sobre a goleada, já comentei no post aí embaixo. Sobre o Zidane, que honra! Trata-se do maior jogador que eu vi na vida, sem dúvida.

Anônimo disse...

Felipe...Zidane...Palmeiras..apesar do cansaço e da fome que vc passou,com certeza valeu a pena.Eu assisti o jogo por vc.Sabia que vc estava trabalhando...Palmeiras, sp tem um jogo por aqui...porém entrevistar e ver o Zidane jogar....

Carolina Maria, a Canossa disse...

Eu queria muito ouvir a resposta do Raul quando o cara ligasse para ele contando o que você aprontou.

E eu também queria ter visto o Zizou, que parece ser maior gente boa, apesar da irmã que tem (ok, não resisti).