Toca o telefone no sábado à noite. Amigos do outro lado da linha: “A gente tá indo praquele bar na Vila Madalena e vai passar aí na Paulista daqui a pouco pra te pegar. Fechou?”. Minha resposta não poderia ser outra que não “Foi mal, cara, mas não vai dar. Hoje tá bizarramente corrido aqui e eu vou sair da redação bem tarde. Mas final de semana que vem, certeza, a gente toma umas e outras”.
E essa foi a tônica do meu sábado. Eu, que até estava com uma certa vontade de sentar em uma mesa de bar para tomar alguma coisa gelada para deixar a minha garganta ainda mais dolorida e contar histórias, acabei ficando com um versinho bem famoso na cabeça: It’s been a hard days night and I’ve been working like a dog.
Mas eu não era o único que trabalhava como uma mula no sábado à noite, e todo o pessoal da redação que estava no mesmo barco se reuniu e fechou uma pizza. Em um ano e meio de Gazeta, foi a primeira vez que participei do famigerado rateio da redonda, famosa nas rodadas de quarta-feira à noite. Algo inédito, veja você!
Pois bem. Aos poucos as pessoas normais e com família a zelar foram indo para casa. Restamos na redação William ‘Shrek’ Correia, com o resumo da rodada do Paulistão, e eu, com a honrosa ida do Ricardo Mello à final de um torneiozinho mequetrefe de tênis no México. Isso às 23h45 da noite.
Após encerrarmos a labuta sabatina, desligamos as televisões e vimos que três pedaços de pizza não foram consumidos. Por consenso, decidimos levá-los e dá-los a algum mendigo no caminho até o metrô. “Mendigo na Paulista é o que não falta nessa hora”, concordamos.
Mas foi quando pisamos na calçada em frente ao número 900 que olhamos para o escadão e não vimos um mendigo sequer. O Shrek até brincou: “só falta a gente não encontrar mendigo hoje, quer ver?”. Continuamos andando. Atravessamos a Joaquim Eugênio, passamos em frente ao McDonald’s... nada.
Demos mais alguns passos e nada de moradores de rua. “Quer ver? Não vai ter ninguém!”, prosseguiu o Shrek. Viramos no cruzamento com a Brigadeiro: “Ah, aqui sempre tem uma galera dormindo”, lembrei. Mas não neste sábado. Nem na frente da Drogaria São Paulo tinha alguém.
Droga. Era meia-noite de sábado para domingo, eu estava saindo do trabalho e tinha uma pizza nas mãos. Claro que as pessoas esquisitas que passavam pela gente na Paulista me olhavam com cara ainda mais estranha. Normal. Estávamos quase resignados de voltar com a pizza para casa quando o Shrek lembrou: “Não, pelo menos o cara que fica na estação Brigadeiro tem que estar lá”. “Quem, o tiozão barbudo da meia?”. “É, isso. Se ele não estiver, não tem mais mendigo hoje”.
Mas o tiozão barbudo da meia não estava lá. Medo. Conseguimos, por sorte, avistar um mendigo do outro lado da rua. Atravessamos a Paulista e demos a tal pizza para o cara que, incrédulo e talvez um bocado bêbado, não sabia se deveria aceitar. “Mas... tudo pra mim?”. “Sim, pode pegar... bom apetite e boa noite”, respondi, com um sorriso empático no rosto.
Fazer boas ações é bem legal e gratificante, mesmo depois de um expediente insano em uma noite de sábado. E mesmo com poucas pessoas dispostas a receber uma boa ação.
Um comentário:
Essa semana uma velhinha me perguntou como ela fazia pra chegar na estação Paraíso do metrô e eu falei: eu estou indo pra lá, se a senhora quiser eu posso te acompanhar. Nossa, ela me adorou tanto, ficou falando que as pessoas na rua sempre ignoravam ela e terminou falando assim: "Tem um ditado que diz que quem ajuda o próximo, empresta a Deus. O que você está fazendo por mim hoje, vão fazer pela sua mãe amanhã".
Eu achei bonito e me senti bem, mas fiquei com pena dela. Deve ser muito mal tratada, né?
Enfim, reflexões, haha..beijos!
Postar um comentário