Demorou um ano e dois meses. Enquanto quase toda a população nacional comemorava a segunda-feira de Carnaval com todas as combinações alcoólicas possíveis em alguma praia por aí, eu me esbaldava com um café da Starbucks na Avenida Paulista e me preparava psicologicamente para o trabalho: a minha primeira cobertura de treino do Palmeiras.
Embora já tivesse feito treinos das seleções brasileiras de softball, esgrima e basquete e também do Botafogo, ainda tinha comigo um pé atrás: era o primeiro grande de São Paulo, e ainda mais depois de muito tempo me dedicando apenas ao noticiário dos outros esportes. Depois de tantos meses de ‘reclusão’ voltaria a ser lido (ou alguém acha que notícias de NBA e tênis dão alguma audiência? Infelizmente, não).
Pois bem. Peguei laptop, celular, cabos e mais cabos, documentos, óculos, blusa de moletom, barrinha de cereal, gravador... e ainda assim senti que estava esquecendo algo. Só no carro percebi que havia deixado para trás o bloquinho e a caneta. Acontece.
Ao chegar ao CT do Palmeiras, tentei armar o laptop e desisti logo em seguida: não havia tomadas trifásicas no local. Claro que na hora me lembrei do fatídico Grand Champion Brasil (mais explicações aqui e aqui), quando tive que passar um estresse danado para conseguir um adaptador. Preferi não correr riscos. E lá também não havia internet banda larga com cabo para muita gente. É, as coisas não iam muito bem.
O treino começou e eu, que nem de longe lembrava aquele molequinho vislumbrado eu até uns cinco anos atrás sonhava em ver de perto os jogadores do Palmeiras, observava tudo atento. Enfim. O momento mais legal foi quando começou um treino de finalizações e eu fiquei atrás do gol vendo os chutes e, mais legal ainda, as defesas do Marcos. Claro, foi inevitável ver um ou outro jogador errar feio o alvo e mandar a bola pra fora do campo, por cima do alambrado.
Num desses bicões esdrúxulos, a bola caiu ao meu lado. Nada mais gentil do que devolver, não? Pois bem... ao pegar a bola, senti que poderia ser observado por ninguém menos do que Wanderley Luxemburgo e, se a carreira jornalística não virasse, poderia virar gandula do Palmeiras. Mas, ao tentar jogar a bola por cima do alambrado, coloquei pouca força e a bola apenas bateu no topo da grade. E pior: caiu com tudo na cabeça de um renomado repórter de rádio. Vergonha foi pouco.
Apesar de vários pesares com o notebook, que me deixou na mão logo após eu pensar que não precisava salvar os textos porque nada de mal iria acontecer, terminei a cobertura e voltei para casa. Com cinco notícias bem bestas, ganhei destaque principal de capa pela primeira vez depois da final feminina do Aberto da Austrália. Tinha até esquecido como era bom ter a sensação de que é possível ser lido por mais de duas pessoas.
E, claro, essa superexposição textual rendeu várias críticas. Bastou entrar no Orkut e ver vários torcedores metendo o pau em uma das minhas notícias. Elogios como ‘Gambazeta’ e ‘jornalismo de segunda’ foram fichinha para aqueles que acharam que havia um erro pelo fato do lateral-direito Élder Granja ter sido relacionado pra viajar com o elenco – o que de fato aconteceu. Apesar de ser xingado injustamente por torcedores preguiçosos e passionais/irracionais, estava sentindo falta de ver repercussão das minhas notícias – coisa que só acontece no futebol.
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